ATA DA NONAGÉSIMA QUARTA SESSÃO ORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 02.09.1987.
Aos dois dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Nonagésima Quarta Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adão Eliseu, Antonio Hohlfeldt, Artur Zanella, Auro Campani, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha, Caio Lustosa, Cleom Guatimozim, Ennio Terra, Flávio Coulon, Frederico Barbosa, Getúlio Brizolla, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Ignácio Neis, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, Jorge Goularte, Jussara Cony, Kenny Braga, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Nilton Comin, Paulo Sant’Ana, Paulo Satte, Pedro Ruas, Rafael Santos, Raul Casa, Teresinha Irigaray, Werner Becker e Peró Job. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou ao Ver. Nilton Comin que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. À Mesa foram encaminhados: pelo Ver. Cleom Guatimozim, 01 Pedido de Providência, solicitando reparos na Rua Marco Polo, esquina com a Rua Adão Baino; pelo Ver. Ennio Terra, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 78/87 (proc. nº 1888/87), que altera a redação do parágrafo único do art. 2º da Lei nº 2521, de 7 de junho de 1963; pelo Ver. Flávio Coulon, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 77/87 (proc. nº 1866/87), que denomina Rua Emílio Baldino um logradouro público; pelo Ver. Frederico Barbosa, 01 Projeto de Resolução nº 25/87 (Processo n° 1833/87), que institui o 1º Seminário Municipal sobre Esportes no Município de Porto Alegre; pelo Ver. Hermes Dutra, 03 Pedidos de Providências, solicitando reposição do passeio na Rua Doze de Outubro, em frente ao nº 607; reposição de calçamento em paralelepípedo na Rua Eudoro Berlink, em frente ao nº 675; fiscalização do cumprimento dos horários dos ônibus que atendem à Linha Partenon; pelo Ver. Isaac Ainhorn, 04 Pedidos de Providências, solicitando retirada do lixo que se acumula na viela de acesso à Rua Euclides da Cunha, no final da Rua Luís de Camões; patrolagem no Beco do Cego, no Lami; troca de luminária no poste existente na Rua Portuguesa, altura do nº 99; troca de lâmpadas nos postes da Rua Alarico Ribeiro, entre os nºs 209 e 239; pelo Ver. Kenny Braga, 01 Projeto de Resolução nº 29/87 (proc. nº 1904/87), que concede o prêmio artístico “Lupicínio Rodrigues” ao compositor Wilson Ney dos Santos; pelo Ver. Nilton Comin, 01 Pedido de Informações, acerca dos alagamentos que ocorrem em Porto Alegre e medidas do Executivo Municipal a respeito. Do EXPEDIENTE constou Ofício nº 1065/87, da Sociedade Ginástica Porto Alegre. A seguir, em face de Requerimento, aprovado no dia trinta e um de agosto, do Ver. Clóvis Brum, solicitando Licença para Tratamento de Saúde no período de trinta e um de agosto a dois de setembro do corrente ano, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Marcinho Medeiros e, informando que S.Exa. já prestara compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Educação e Cultura. Em continuidade, o Sr. Presidente informou que se encontrava presente na Casa o Sr. Prefeito Municipal para, nos termos dos artigos 199 e 200 do Regimento Interno, dar esclarecimentos relativos ao “Projeto Praia do Guaíba”, e convidou os Líderes de Bancadas a conduzirem S.Exa. ao Plenário. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Prefeito Alceu Collares que discorreu acerca do “Projeto Praia do Guaíba”, seus objetivos, abrangência, dificuldades e viabilidade. Em prosseguimento, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Arq. Jorge Decken Debiagi que leu e comentou documento encaminhado ao Executivo Municipal, com um estudo de viabilidade econômica, social e técnica do “Projeto Praia do Guaíba” e apresentou audiovisual relativo ao mesmo. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores Pedro Ruas, Antonio Hohlfeldt, Jorge Goularte Werner Becker, Caio Lustosa, Marcinho Medeiros, Jussara Cony, Hermes Dutra, Getúlio Brizolla, Flávio Coulon, Paulo Sant’Ana, Artur Zanella e Kenny Braga, que formularam quesitos ao Prefeito Municipal de Porto Alegre, acerca do Projeto Praia do Guaíba. Após, foi apregoado Requerimento do Ver. Hermes Dutra, solicitando que o Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 05/87 tenha renovada sua votação. A seguir, o Sr. Presidente agradeceu a presença, na Casa, do Sr. Prefeito Alceu Collares e levantou os trabalhos às dezoito horas e quarenta e oito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha, Teresinha Irigaray, Gladis Mantelli e Jaques Machado e secretariados pelos Vereadores Gladis Mantelli, Frederico Barbosa e Jaques Machado. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
O Sr. Prefeito Municipal comparece à Câmara Municipal face ao dispositivo legal
que regulamenta os trabalhos desta Casa em seus artigos 199 e 200. S. Exa.
comparece a seu próprio pedido, para apresentar determinado Projeto declinado à
Mesa. Terá em sua companhia o Arquiteto Jorge Debiagi. S. Exa. terá o tempo
regimental para fazer a exposição, podendo, como é hábito da Casa, passar a
palavra à assessoria que melhor facultar.
A Câmara Municipal de Porto Alegre cumprimenta S. Exa. e lhe passa a
palavra.
O SR. ALCEU COLLARES: Sr. Presidente Brochado da
Rocha, companheiros que integram a Mesa representando os diversos Partidos,
lideranças partidárias, colegas e companheiros Vereadores.
Estamos chegando à Câmara Municipal com um estudo de viabilidade, com
uma idéia para submeter a esta Casa depois de termos feito a apresentação do
estudo de viabilidades urbanística, arquitetônica, econômica, paisagística e
ecológica, em 32 organizações. A preocupação nossa é de que esta idéia e este
estudo de viabilidade seja ampla e
profundamente debatido pela comunidade de Porto Alegre. Nós desejamos, por
isto, que convicção nós temos neste estudo, que ele gere a consciência da
comunidade sobre a sua importância, por vários fatores: primeiro, porque é uma
idéia nova, uma idéia audaciosa, uma idéia diferente, uma idéia que sai da
rotina, uma idéia que sacode a sociedade num debate em alguns casos até
polêmico e nós estamos há muito tempo em Porto Alegre sem esta possibilidade.
Nós havemos vivido esses anos todos num marasmo muito grande, sem a
possibilidade de um debate duro, forte, firme, polêmico, nem por isso
necessariamente agressivo, nem por isso necessariamente ofensivo, nem por isso
necessariamente de modo a criar inimizades no campo das controvérsias, no campo
das divergências. Nós poderemos ter uma outra posição, isso evidentemente nos
leva ao respeito mútuo, ao respeito recíproco neste aprendizado que alguns
povos tem de 150, 200 anos, que se chama a tentativa da construção de um regime
democrático.
Este Projeto já passou por 32 entidades, numa delas nós tínhamos 20
associações, quase toda a Zona Sul, e a receptividade do Projeto Praia do
Guaíba tem sido bastante grande, tem sido muito boa, eu diria até excelente. Há
questionamentos? Sim, muitos questionamentos. Como se trata de um estudo de
viabilidade, esta é a hora exata desses questionamentos, dessas críticas, das
observações, dos registros, das censuras para, em sendo necessário, alterar a
programação, o plano ou a futura elaboração dos projetos técnicos básicos. Nós
tivemos há poucos dias a honra de receber a Comissão Permanente de Saúde e Meio
Ambiente da Câmara Municipal, com a presença do ilustre Ver. Caio Lustosa e de
um grupo de presidentes de entidades que prestam relevantes serviços à
comunidade porto-alegrense, nós fizemos estas afirmações, que estávamos diante
de um estudo de viabilidade, mas evidente o assunto nos levou a alguma
discussão e alguns debates. Mas o que nós afirmamos aos companheiros que ali
presentes estiveram é de que o que eles querem, o que eles desejam, que é uma
participação efetiva da comunidade, de todas as entidades no debate matéria, é
o que nós desejamos, mais do que isto, é o que já estamos fazendo, até porque
se não houver esta consciência da importância, da oportunidade, da conveniência
desta proposta, ela não terá probabilidade de êxito, ela pode fracassar, ela
pode não atingir os objetivos a que se destina. Então, a todas aquelas
entidades que estiveram lá presentes, nós damos aqui uma resposta pública,
vamos fazer um grande debate. Acho que até a Câmara terá condições de abrir
espaços, quanto tempo quiser, para uma discussão forte, para ouvir, apanhar
todas as opiniões. Nos momentos em que se faz apresentação desse estudo, dessa
idéia, temos dito que se outro mérito não tiver, o estudo da viabilidade do
Projeto Praia do Guaíba tem um: estamos discutindo o Rio Guaíba. Como nós nos
esquecemos do nosso amado e querido rio! Há quanto tempo nós não discutimos o
Rio Guaíba? Porque a mão impiedosa do homem escondeu o rio do porto-alegrense,
ela construiu um porto, ela construiu uma cortina com cimento, ela construiu
diques, e nos afastou do Rio Guaíba, mais do que isto, ela fez com que nós
perdêssemos o vínculo cultural com o nosso rio. O que todos os povos tentam,
procuram e se esforçam para mantê-lo e para ampliá-lo, o vínculo cultural com o
rio, até porque são os rios os caminhos principais das civilizações. Os homens,
através dos séculos, sempre que buscaram localizarem-se em outros espaços, buscaram
os rios. E nós temos uma fortuna, nós temos uma riqueza, nós temos um tesouro,
nós temos um patrimônio fantástico que está aqui bem pertinho de nós. E nós,
lamentavelmente, estamos de costas para o rio Guaíba. Mais do que isto: o rio
está doente e os Vereadores sabem muito bem disso, porque trataram da saúde
deste rio e de alguns projetos que objetivavam a despoluição do mesmo. Aqui foi
realizada uma CPI, se discutiu com seriedade, com responsabilidade a matéria e
houve até uma tendência que determinava o encerramento do Projeto, certamente
na expectativa de que, em se encerrando este, ou em se desestabilizando este
Projeto, outros projetos viriam. Estou certo de que esta tendência consciente
da enfermidade do rio haveria de dar uma outra medida, outras propostas, outros
projetos para recuperar o rio Guaíba, para buscar, se não a balneabilidade,
principalmente a potabilidade. Os nossos rios que integram esse conjunto que
vêm desaguar no estuário do Guaíba sofrem, ao longo do seu percurso, a
afluência de milhares e milhares de toneladas de resíduos químicos que são
jogados nas suas águas e, conseqüentemente, perturbam a saúde dos rios. O nosso
Guaíba - todos sabem - o percentual maior de poluição decorre do esgoto
sanitário que é jogado “in natura” em suas águas. Pois havia aqui um projeto,
estava já em fase de execução, e a CPI procurou depois aprofundar um estudo
sobre ele, determinando que se estendesse mil quilômetros de rede em Porto
Alegre, para dar vazão ao esgotamento sanitário e quatro estações de
tratamento, foram essas estações de tratamento que determinaram a alteração do
Projeto. Quando nós estávamos para assumir, pedimos à Câmara que nos desse a
oportunidade de fazer uma revisão desse estudo. Sensível, a Câmara, pela sua
maioria, aprovou a resolução no sentido de que se processasse um estudo e nós
estamos processando. Já encontramos uma alternativa para as estações de
tratamento, que são as lagoas de estabilização primárias e secundárias, que vão
ser localizadas na Ilha das Flores, com 300 hectares aqui no território de
Porto Alegre, e para onde se remeterá todo o esgoto de Porto Alegre, através de
tubões de material que eu não lembro tecnicamente do nome, mas já com os
recursos deferidos para a elaboração do Projeto das lagoas de estabilização.
Este Projeto está sendo discutido, porque se fosse um país da Europa ou
Estados Unidos que estivesse fazendo um trabalho, uma tentativa de despoluição
do seu rio e recuperação da saúde deste rio essencial à vida da civilização,
como aconteceu com a Inglaterra quando recuperou parcialmente o Tâmisa, eles
pegaram um aquário, colocaram um salmão dentro e tem esta fotografia remetida
para o mundo todo dizendo: “nós, os ingleses, conseguimos recuperar a saúde do
rio, estamos cultivando em suas águas o salmão”.
Nós não fizemos isto, evidentemente, por uma série de fatores, até
porque o nosso Projeto está numa fase ainda inicial. Junto com este Projeto,
estudando este Projeto, é que nós andamos pela orla do Guaíba e fomos verificar
uma enorme área abandonada que está sendo aos poucos invadida por subabitação,
é um problema social, que todo mundo reconhece a sua existência, está sendo
apropriada por entidades privadas através de doações legais, como é uma parte
que o Colorado tem. O Internacional uma parte grande - e nós no Executivo
recebemos vários pedidos de outras entidades que, à semelhança do
Internacional, também pleiteiam que sejam feitas de parcela daquela gleba para
que eles também tenham acesso ao Guaíba de maneira privada, particular.
Então, o nosso Projeto preconiza, na extensão compreendida entre a
Usina do Gasômetro e o Estaleiro Só, tratar 104 hectares. Não vamos atingir as
áreas consagradas do Parque Marinha do Brasil nem do Parque Maurício Sobrinho.
Não vamos aterrar nem um milímetro do Guaíba. Vamos recuperar a Usina do
Gasômetro, terminar as obras da Câmara Municipal de Vereadores, construir um
centro de convenções, espaço cultural para as mais diferenciadas atividades do
mundo artístico, uma passarela de eventos populares para a realização não apenas
do Carnaval, não apenas do 20 de setembro, não apenas do 7 de setembro, porque
isso - embora importantes essas atividades - elas evidentemente fariam com que
esse espaço, que custou o dinheiro do povo para sua construção, vivesse longo
tempo em ociosidade.
Então, a inteligência inspirada do companheiro Debiagi preconiza que
nessa passarela de eventos populares haja uma cobertura de 100 metros, capaz de
permitir o seu uso, a sua utilização permanente para as mais diversas
atividades, como espetáculos teatrais, musicais, artísticos, encontros, quem
sabe até religiosos, com uma grande cobertura e com lugares para 25.000 pessoas
nas suas escadarias e arquibancadas. Vamos construir também o sistema viário,
já instituído no Plano Diretor, à beira rio, há tanto tempo reclamado pela Zona
Sul que, a cada vez que há um espetáculo, os moradores da Zona Sul são
obrigados a fazer uma enorme volta, até lá pela Vila Cruzeiro e outras partes.
Vamos fazer a extensão de um sistema viário compreendido em seis quilômetros, com
duas vias, um binário com dez metros e meio cada, com pontes, passarelas e com
passagens para que, de um parque ao outro, a pessoa possa chegar à orla do
Guaíba sem correr o risco de atravessar as vias públicas. Mas, também - é o que
me parece importante - buscar a nossa gente que trata da Ecologia e do
paisagismo, para o aproveitamento da orla do Guaíba, entre o dique e a orla do
Guaíba. Ali, pretendemos instalar. Vejam, como é um estudo de viabilidade
urbanística, arquitetônica, econômica e paisagística, pode ser alterado tudo.
Pode ser modificado tudo. Pode até não ser aprovado. Então, eu e o Engº Debiagi
voltaremos pra casa, apenas com a consciência de que tentamos, com a
consciência de que ousamos, com a consciência de que inovamos. Pode ser até um
grande equívoco o que estamos cometendo. Porém, até agora, nos debates que
temos comparecido, uma voz, um argumento, um questionamento, uma palavra, uma
frase não se levantou, nem um discurso, por mais longo que tenha sido algum
questionamento, nada, nos abalaram na profunda convicção de que estamos
prestando ao nosso povo, propondo ao nosso povo, representado pela Câmara, algo
inovador, nesta orla de cinco quilômetros e meio, pois vejam bem, se
conseguirmos recuperar a saúde do rio, se conseguirmos restabelecer o grau de
potabilidade do rio, mesmo que isto não aconteça, sabem quantas e quantas
pessoas aos domingos quentes e calorentos buscam a Praia de Ipanema, Assunção e
outras? Não me digam alguns que só vão lá aqueles que têm carros. Não, senhor.
Grande quantidade de gente vai até de ônibus, e ficam horas e horas em filas
esperando a ida e depois o retorno.
Esta praia, este rio Guaíba é uma espécie de litoral de pobre, muito
mais pobres vão para a Assunção e outras praias menores do que da classe rica.
Nós vamos pegar esta orla toda e sugerimos, se a idéia for aprovada,
que ali sejam instalados sete lugares com restaurantes, com bares, com
vestiários...
(Aparte vindo da galeria.)
Regimentalmente, a senhora terá que esperar. Esta é a minha hora. E
aqui estou com um mandato que o povo me deu, com a legitimidade e a consciência
de uma parte do povo de Porto Alegre. Sei que tem gente que não gosta da minha
pele, mas isto não conta nesta jogada. Nem a favor nem contra.
Então, gostaria de continuar, Sr. Presidente, se possível, sei que
podemos continuar. Vamos estabelecer sete lugares, espaço com restaurantes,
bares, com vestiários e sanitários. Vamos restabelecer os campos de futebol,
que a especulação imobiliária retirou dos nossos filhos. Quantidade de campos
de futebol ao longo de cinco quilômetros e meio - já estou vendo o Ver. Kenny e
o Ver. Sant’Ana dizendo “o craque fulano de tal nasceu na orla do Guaíba” - é
evidente que nós não aspiramos a isso, por causa da idade. Pode ser que nossos
netos tenham essa aspiração.
Esses locais serão como clubes abertos, ninguém vai pagar nada. Todos
terão acesso, daqueles que só podem chegar na Praça XV de ônibus, ou, vindo da
Zona Sul, chegam até a Salgado Filho, podem descer antes, outros podem pegar
sua mochila, sua pastinha e ir lá, bem como os ricos fazem, tomar sua cerveja
bem na fresquinha, namorar e fazer o que todos fazem, realizar o que todos
realizam, o lazer para a alma. Algumas almas podem estar imaginando outras
coisas. O lazer, o descanso para grande parte da população. É uma janela grande
que se abre para os nossos trabalhadores das vilas.
Bem, como faremos essas obras, com que dinheiro? São obras que estão
estimadas em um bilhão e quinhentos milhões, a preço de maio. Se a Prefeitura
tivesse um bilhão e quinhentos milhões, é evidente que eu não poderia colocar
esse dinheiro do contribuinte porto-alegrense em uma obra dessas. Teria que
levar para os saneamentos básicos das vilas populares, para escolas,
transportes, postos de saúde, para os postos policiais das vilas. Mas não temos
nada, e nesse Projeto não iremos colocar nada. Surge da cabeça do nosso
talentoso arquiteto, e é talentoso mesmo! Alguns acham que ele não é muito
talentoso. Eu acho. E mais; tem obras fora do Brasil e no Brasil,
reconhecidamente um dos grandes arquitetos nossos. Mantém um escritório privado
e vive de suas atividades, o que normalmente não acontece com muitos
profissionais. Vejo isto na advocacia. Eu mesmo fiz força para sobreviver e não
consegui e aí tive que ser político. Então, se nós tivéssemos recursos - vamos
repetir esta parte, porque tem uns que confundiram: como é que este cara do
PDT, socialista, vai fazer esta obra para a elite, com o dinheiro do povo? Não
é isto. Se eu tivesse 1 bilhão e 500 milhões eu teria que colocar nas vilas.
Vamos repetir: se eu tivesse este dinheiro e tentasse esta obra, os próprios
companheiros de Partido, nesta hora, já estariam cortando o meu pescoço. De
onde é que ele tirou esta idéia de botar este dinheiro nesta obra? Importante
para Porto Alegre? Indiscutivelmente, mas qual é a prioridade dos Partidos,
pelo menos do meu? É o social, teríamos que colocar nas vilas o saneamento,
extensão de rede de água e esgoto, coleta de lixo para elevar os índices da
saúde pública da gente nossa. Então, vamos repetir: 1 bilhão e 500 milhões nós
vamos buscar e acho que vamos tentar trazer da iniciativa privada. Como?
Oferecendo espaços para que a iniciativa privada, no campo da hotelaria ou no
campo do shopping center ou no campo da construção civil, se quiser construir
apartamentos com no máximo quatro pavimentos, com lojas, longe uns dos outros,
para não cairmos no erro da cortina do cimento que foi erguida para roubar a
nossa visão. O rio é nosso. Então, vamos buscar na iniciativa privada. De que
maneira? Nós fizemos uma pesquisa no mercado antes da elaboração dessas idéias,
viabilidade urbanística, arquitetônica, econômica, ecológica, paisagística. Ela
é abrangente de tudo o que vai acontecer. Não é um projeto, porque é um estudo,
e pode ser totalmente alterado. Nós vamos contar com a colaboração dos órgãos
especializados. O Dr. Caio nos levou lá, disse que quer dar uma contribuição
para nós, uma contribuição sincera, disso eu tenho a absoluta convicção, para o
aprimoramento da idéia, se aprovarem, porque também podem ser contra a idéia.
Então, estas empresas privadas, para adquirirem o direito de construírem em
determinadas áreas, terão que entrar com recursos capazes de cobrir as despesas
da infra-estrutura e das obras públicas. E tem outro lado que é um Fundo de
Saneamento Básico das Vilas Populares, integrado por 20% de um bilhão e
quinhentos milhões, para que possamos fazer a extensão da rede de água e
esgoto, da coleta de lixo nas nossas Vilas. Nós não estamos fazendo isso para
simpatizar o projeto. Não, a Câmara nos deu um grande ensejo, nós temos um
instrumento nas mãos que é o Fundo de Desenvolvimento Urbano, onde nós vamos
vender índices para construções em determinados lugares. A Prefeitura vai
vender e com o dinheiro vai fazer o investimento, 50% em obras públicas e 50%
nós vamos colocar, também, no saneamento básico. E - para não dizerem que são
só estes dois - aqui na Câmara tramita um Projeto onde nós estamos tentando
vender por licitação, alienar por licitação, transferir a propriedade por
licitação e os recursos provenientes de 10 terrenos nobres, nós vamos fazer
creches nas vilas populares. É uma tônica do nosso Governo a preocupação com as
vilas populares. Nós temos um sistema, uma rede de prédios, e quando os
Vereadores quiserem, podemos pegar um ônibus - pode ser da Carris - para olhar
o que estamos fazendo em matéria de construção de prédios escolares em cada um
deles. Há todo o equipamento moderno, no campo da educação libertadora e
popular, porque em muitos nós teremos o turno único, aquele que causou uma
inveja desgraçada lá, contra o Brizola, o CIEP, nós vamos utilizar aqui a
metodologia, porque é um tipo de educação, de concepção revolucionária, onde a
criança ficará o dia inteiro na escola, com todo o tipo de assistência, desde o
tipo alimentar, educacional, esportiva, cultural, artística, e na hora das suas
tarefas terá gente treinada para orientá-los. Entram pela manhã e saem à noite.
Isto para as vilas populares, para as vilas onde o pai e mãe trabalham e não
podem cuidar das crianças. Estamos construindo-os, e vamos ter quinze deles. Se
os companheiros quiserem ver, já temos muitos que estão prontos. Há ginásios
cobertos, com a capacidade mínima de duas mil pessoas. É a integração aluno,
professor e comunidade. A comunidade usará estes ginásios cobertos para os
casamentos dos filhos, para aniversários, para o encontro das associações de
moradores, para atos religiosos, para o carnaval, mas vai usar, também, para a
ginástica, para o atletismo, para o basquete, para o vôlei, para o futebol de salão,
para a parte artística e cultural. Vamos deixar quinze ginásios cobertos com a
capacidade para dual mil pessoas, cada um. Esses prédios vão-se transformar, se
Deus quiser, no clube da vila, porque vamos entregá-los à comunidade através de
conselhos, e muitos deles já estão constituídos.
Esta foi uma derivação que fiz no sentido de mostrar que não é o Fundo
que tem aí no nosso Projeto Praia do Guaíba um instrumento para simpatizá-lo, e
sim uma preocupação da nossa Administração, de tirar dos lugares onde tem, para
levar para lugares onde não tem. É apenas um registro, sem maldade, sem malícia
nenhuma. Este Projeto da venda dos terrenos da Prefeitura, que são áreas nobres
da Perimetral, é muito importante. Se vocês forem pela Av. Ipiranga, pela
Perimetral, vão encontrar por ali muitas agências de carros e muitos
estacionamentos e grandes extensões que pagam uma ninharia para o MAPA. Alguns
daqueles terrenos queremos vender para fazer creches e corresponde, aquele
conjunto de terrenos, a apenas 4% de toda a propriedade imobiliária que a
Prefeitura tem em Porto Alegre. E, agora, só um registro, não é uma queixa, só
uma observação e não um choro: eu vou pedir que a Câmara me ajude a fazer isto,
aprovando este Projeto. Não vejo razão para não aprová-lo. Está tratado, já,
com as Lideranças, acho que até meados deste mês vamos ter aprovado este
Projeto. Ele tem uma finalidade social muito grande. O alcance social deste
Projeto é um colosso e eu tenho absoluta convicção de que não tem nenhum
Vereador contra ele. Pode ter até questionamentos a respeito do Projeto, pode
haver precauções, podem ser apresentadas Emendas. Se a redação não for boa,
apresentem substitutivos, mas eu gostaria de ter em mãos este Projeto e, por
isto, faço um apelo aos Srs. Vereadores, no sentido de que nos dêem a
oportunidade desta tarefa grandiosa.
Voltando ao Fundo de Saneamento Básico, nós vamos tirar 400 milhões de
cruzados, ao longo de cinco anos de implantação do Praia do Guaíba, se for o
caso - se a população quiser, porque, se não quiser, paciência - para o
saneamento básico das vilas populares. Então, eu terminaria aqui dizendo que
isto é um sonho ou uma utopia, mas um sonho e uma utopia que estão bem pertinho
da nossa mão. É só ter coragem para pegar. Mas tem que caminhar um pouco. E eu
o Debiagi estamos caminhando e, como o Drummond disse, estamos encontrando
algumas pedras no caminho. Mas eu tenho absoluta convicção de que os nossos pés
têm uma sola extremamente forte, porque constituída de convicções profundas.
Esta é uma idéia nova, mas nós não vamos deixar de chegar ao final, mesmo que
tenhamos todos esses obstáculos, porque vamos vencê-los, somos todos criaturas
humanas e na hora em que começarmos a conversar, se alguém tem um
questionamento, vai lá, apresenta alterações, modificações. Também teremos
pessoas que são contra: eu já ouvi comentário de uma pessoa que me causou
espécie, pessoa bem dotada, dizendo que não podia mexer, porque é uma área que
não pode ser alterada, como é que se vai fazer um negócio desse? Mas será que a
gente pode deixar uma área nobre sem utilização civilizada e social? Será que
podemos nos esconder atrás das nossas concepções filosóficas, ideológicas e
doutrinárias para impedir que uma obra dessas seja realizada? Será que temos
condições de negar a Porto Alegre que ela mude a sua fisionomia? Vamos
caminhar, se possível, juntos; se não for possível, vamos separados, mas
discutindo, debatendo com a delicadeza que está na alma das boas pessoas. Muito
obrigado. (Palmas.)
Quero pedir ao companheiro
Debiagi que use a linguagem das imagens e pedir ao Presidente que dê a
oportunidade de fazer a apresentação do Projeto para este auditório que veio
nos honrar com a sua presença. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Dr. Jorge
Debiagi.
O SR. JORGE DEBIAGI: Presidente Brochado da
Rocha, Sr. Prefeito, demais membros desta Mesa, Senhores Vereadores, senhoras e
senhores. É com muita satisfação que, depois de lançarmos uma idéia, há 17 de
junho deste ano, depois de estudá-la por mais de seis meses, chegamos ao ponto
de uma discussão pública, que tem como objetivo receber subsídios, enriquecer,
ou quem sabe, até, como disse o Dr. Collares, negar esta proposta. Fico
satisfeito em poder ter contribuído para uma discussão pública a respeito de um
grande espaço desta Cidade. Se constitui, para mim, uma satisfação extremamente
importante saber também que talvez seja a primeira vez que se discute desta
forma a ocupação de um espaço da Cidade, ocupação de um espaço que, no nosso
entendimento, se torna muito importante para o futuro da cidade de Porto
Alegre. Torna-se importante pelo fato de que se não ocorrer esta ocupação, de
uma forma ou de outra, a população de Porto Alegre, em sua grande maioria,
estará sujeita a perder essa área.
Farei uma leitura, pela primeira vez, depois da 32ª apresentação, do
documento encaminhado ao Sr. Prefeito Municipal, à Prefeitura Municipal de
Porto Alegre, em 17 de junho. (Lê.)
“Exposição de um estudo de
viabilidade urbanística e arquitetônica, denominado Projeto Praia do Guaíba.
Exposição e Justificativa. Aspectos Gerais. A cidade de Porto Alegre está de
costas para o rio. Esta frase é constantemente colocada quando nos referimos à
relação da Cidade com o rio Guaíba. A evolução histórica desse isolamento teve
início quando da construção do seu novo porto e na sua posterior ampliação,
quando as margens do rio afastaram-se da Cidade, na Zona Norte. Mais tarde, o
dique e o muro de proteção complementaram esse isolamento justamente na região
mais densa de Porto Alegre. Se tal sucessão de acontecimentos ocorreu na Zona
Norte, a Zona Sul, com seus balneários da Tristeza, Pedra Redonda e Ipanema,
manteve-se durante muitos anos afastada, só se integrando após os aterros
efetuados na enseada da Praia de Belas e do Cristal. Se por um lado beneficiaram
o acesso à Zona Sul, por outro também impediram o acesso ao rio. O aterro da
Praia de Belas foi concretizado na década de 50, tendo origem a partir de dois
projetos que se sucederam. O primeiro, constituído de um grande loteamento
sobre a área do aterro, seria executado por uma firma particular que doaria ao
Município e ao Estado a urbanização de áreas públicas e áreas destinadas a
localização de órgãos públicos. O segundo, transformado em lei desde 1955 e em
1959 incorporado ao Plano Diretor da Cidade, organizava unidades vicinais
formadas por superquarteirões de quinze hectares, com blocos elevados na
periferia e no interior prédios residenciais de até quatro pavimentos, escolas
e áreas verdes. A margem do Guaíba era reservada para grandes parques de
esportes e recreação e próximo à ponte dos Açorianos era localizado o novo
Centro Administrativo estadual. Algumas obras chegaram a ser executadas e
vários lotes vendidos, dando origem aos quarteirões existentes próximo à
Secretaria Municipal de Obras e Viação e o Instituto de Previdência do Estado.
Posterior surgimento de linhas e recursos institucionalizados e destinados ao
Plano Diretor e análise dos resultados obtidos nos quarteirões já construídos
desestimularam a manutenção do projeto e do processo pelo qual seria
implantado. Assim, em 1963, houve uma nova proposição, reduzindo a área
urbanizada; em 1970, a Lei nº 3.414 aprovou e disciplinou o novo projeto, que
reservou toda á área entre a Av. Borges de Medeiros e o rio Guaíba desde a Av.
Ipiranga até o Sport Club Internacional para um grande parque e reorganizou as
áreas remanescentes em grandes quarteirões com grandes lotes, sobre os quais
iriam ser construídos edifícios obedecendo a usos, alturas e projeções
definidas, sendo que no setor A, entre as Avenidas Ipiranga e Aureliano
Figueiredo, os usos ficaram determinados pelo Plano Diretor, na sua Lei nº
2.330.
Em 1979, com a aprovação do 1º Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
de Porto Alegre, a Seção 4 das unidades territoriais funcionais, artigos 252,
253, 254, passou a regular as áreas lindeiras das margens do rio Guaíba.
Passadas três décadas, esta imensa e importante região da Cidade
continua inacabada, isolando a Cidade de uma paisagem de indiscutível beleza.
Além do abandono, conseqüência do descaso público, o que prevê a Lei
Complementar nº 43 é extremamente questionável. A previsão de uma Avenida
Beira-Rio, com seis quilômetros de extensão, isolada de qualquer tipo de
atividade, em pleno centro urbano, é negativo sob o ponto de vista da segurança
pública do uso, da valorização turística e da responsabilidade do Poder
Público. Depois de imensos gastos para aterrar parte considerável do rio, é
inadmissível que até hoje não tenha sido devolvido ao uso da população nem o
rio nem as áreas resultantes do aterro, com exceção do Parque Marinha do
Brasil, do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho e Estância da Harmonia e de
algumas áreas ocupadas por órgãos públicos. O restante da área, 104 hectares,
continua inacessível à grande maioria da população. O Poder Público, detentor
desta imensa área urbana, não possui recursos próprios para viabilizar sua
ocupação, nem poderia numa situação de carência torná-la prioritária. Essa
situação tende a prolongar-se com a ocupação por subconstruções que trarão
prejuízos incalculáveis à comunidade como um todo, ao Município por não
realizar e à Cidade por seus espaços inacabados e sem uso adequado. Salienta-se
ainda o fato de que o Projeto Rio Guaíba, em plena execução, recuperará a
balneabilidade das águas deste imenso estuário, devolvendo o rio à Cidade.
Diante desse quadro, o que se propõe para a viabilização da urbanização da
Praia do Guaíba é a sua ocupação efetiva em curto prazo, através de um plano de
viabilidade, apoiado na realidade concreta do nosso meio e das nossas
necessidades, com a participação e iniciativa do capital privado.
Porto Alegre, 17 de junho de 1987.”
Eu gostaria de descrever o Projeto durante a projeção dos “slides”, mas
fazer um comentário último sobre o que eu coloco e assinei em 17 de junho deste
ano, como epílogo desta apresentação de trabalho, é o seguinte. (Lê.)
“Estudos e viabilidades - condicionantes: fazem parte do Projeto de Lei
todas as propostas urbanísticas, arquitetônicas e paisagísticas contidas neste
estudo de viabilidade. A proposta de solução urbanística e arquitetônica deverá
ser considerada preliminar, devendo ser aprofundada durante o desenvolvimento
do projeto básico, o qual, quando concluído, será submetido à aprovação da
Câmara de Vereadores.
O estudo de viabilidade, ao transformar-se em projeto básico, deverá
considerar as contribuições e as idéias provenientes do Poder Público e da
Câmara de Vereadores.
As soluções urbanísticas e arquitetônicas intrínsecas a este estudo de
viabilidade, no entanto, constituem-se na base, no princípio que nortearão o
projeto básico, não podendo este desfigurar o proposto, devendo este ter
preservado o conceito inerente à idéia contida no estudo com suas respectivas
propostas.”
Senhoras e senhores, esta é a oportunidade que nós temos, como profissional,
de dizer sempre, desde que lançamos esta idéia, ela nunca foi um projeto e sim
uma idéia. É um profissional que, preocupado com a sua Cidade, resolveu lançar
uma idéia juntamente com o Prefeito de sua Capital. Portanto, não se trata de
nenhum pacote fechado, muito pelo contrário, este é o momento de ser dado o
início ao grande debate público, através dos Srs. Vereadores, legítimos
representantes do povo.
Eu passarei, a seguir, a fazer a apresentação do trabalho, as imagens
do que poderá vir a ser este estudo.
(O Sr. Jorge Debiagi procede à projeção de “slides” e faz comentários
sobre as imagens projetadas.)
O SR. JORGE DEBIAGI: Esta é a fase do nosso
trabalho. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Neste momento, segundo o
Regimento Interno da Casa, art. 202, os Srs. Vereadores poderão inscrever-se,
se assim o desejarem.
Pela ordem, encontram-se inscritos os Vereadores: Werner Becker, Caio
Lustosa, Marcinho Medeiros, Jussara Cony, Paulo Satte e Getúlio Brizolla. Os
Vereadores inscritos, segundo manda o Regimento Interno, terão 10 minutos para
formular as perguntas ao Sr. Prefeito de Porto Alegre.
Com a palavra o Sr. Ver. Pedro Ruas.
O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente, Sr.
Prefeito Municipal, eu tenho a impressão de que, em termos de administração
pública, em Porto Alegre, é a primeira vez que um Projeto de tal magnitude é
amplamente discutido com a comunidade antes de ser apresentado e de se fazer
uma tentativa de colocá-lo em prática. Foi referido que esta é a 32ª ou 33ª
apresentação do presente projeto ou estudo de viabilidade, e eu pergunto - até
porque assisti duas ou três exposições anteriores e assisti inclusive enquanto
conselheiro da OAB - qual tem sido o nível de aceitação nessas mais de 30
apresentações? Se ocorreram críticas, quais foram essas críticas ao Projeto?
O SR. ALCEU COLLARES: Nós apresentamos, além da
OAB, IAB, da FEDERASUL e outras organizações, apresentamos também à Associação
de Moradores da Zona Sul. Fizemos uma reunião com as lideranças de toda a Zona
Sul, provavelmente tendo ali 25 presidentes e direções de associações de
moradores, e os questionamentos têm sido, em primeiro lugar, sobre a
propriedade da área, o que respondemos que essa propriedade é definida como do
Município. Em 1951, pela Lei 1.841, houve a doação, pelo Estado, dessa área
para o Município. Posteriormente, o Governo do Estado, em cima dessa área, fez
um aforamento que atingiu aquele espaço onde hoje há um prédio do DMAE. O
Município, inconformado, ou melhor, os foreiros inconformados, recorreram à
Justiça, procurando discutir o direito de uso daquele espaço. Em lª, 2ª e 3ª
instância, o Supremo decidiu que o Estado não poderia ter comprometido com o
instituto do aforamento uma área que já havia sido doada ao Município. A única
entidade que tem título de propriedade transcrita no Cartório de Registro de
Imóveis, que é o que caracteriza o domínio sobre a área, é o Município. Na
verdade, temos convênios com o DNOS e o Estado, os quais vêm sofrendo uma série
de aditivos e que têm como objetivo a realização de obras de prevenção contra
enchentes. Por várias razões, certamente da ordem de falhas das entidades, tem
que ocorrer esses aditivos, porque as obras de macrodrenagem, em grande parte
de responsabilidade do DNOS, para que o Município pudesse fazer as obras de
microdrenagem, nós temos hoje uma situação em que o DNOS, pelo convênio, entra
com 50% e o Estado com trinta, ficando os 20% para o Município. Em conseqüência
das falhas que ocorreram a nível municipal, estadual e federal, temos Porto
Alegre, hoje, sofrendo uma grande quantidade de alagamentos. Há poucos dias, em
reunião no Passo D’Areia, com os Vereadores Campani e Comin - havia outros
Vereadores presentes -, começamos a discutir, objetivamente, a responsabilidade
de cada um para a realização dessas obras. Então, por esses convênios, caberia
uma determinada área para cada uma dessas entidades, mas, como o convênio não
foi completado, poder-se-ia levantar o problema da falta do cumprimento das
obrigações assumidas, o convênio poderia ser denunciado.
Não há uma definição de quais as glebas, com as suas delimitações, que
pertencem ao DNOS e ao Estado, mas há uma área de 37 hectares que tem a
característica de bem dominial e que pertence ao Município. Como vamos ocupar
apenas 20, 22 de 104 hectares, sobram 84 hectares para atingir as finalidades
que foram previstas no Plano Diretor, transformá-la em bem de uso comum do
povo. Se porventura acontecer qualquer desentendimento no mundo jurídico,
depois da apresentação do projeto, se a sociedade porto-alegrense quiser, se
desejar, se criar consciência sobre a necessidade desta proposta e a Câmara
aprovar, é evidente, um ou outro embargo serão superados no campo do
entendimento político, porque se a obra é desejada pelos munícipes de Porto
Alegre, tenho certeza que não será o Estado nem o DNOS que vão impedir a sua
realização, pois ela se destina ao bem comum da nossa sociedade.
A outra é o problema ecológico, que muitas pessoas desejam que
permaneça como está, pois é verdade que numa pequena área a natureza criou os
seus fatores, os elementos verdes. Mas é uma área que está, em nosso
entendimento, abandonada, que está sendo invadida, que está sendo apropriada,
como é o caso do Colorado, uma grande área apropriada legalmente, através de
doação. E quero repetir, tem muitos pedidos de doação de outras áreas. Então,
se porventura houver dificuldades no campo jurídico, nós chegaremos a um
entendimento, pois pretendemos apresentar este projeto a todos os Partidos. Sei
que tanto o DNOS, cujo titular é do PFL, como o Governo do Estado e os outros
Partidos, o PT, o PDT, PMDB, PDS, PFL, PSB, todos tenham uma preocupação com
Porto Alegre. Eu finalizaria dizendo que se a idéia for boa e vocês quiserem,
evidentemente ninguém vai segurar esta caminhada. Agora, se ela não for boa,
nós pararemos na hora e voltaremos para a Prefeitura apenas com a consciência
de ter tentado.
O SR. PRESIDENTE: Eu pediria aos senhores que
assistem a esta reunião que mantivessem o nível que a Casa deseja oferecer a
todos os senhores.
A seguir, pela ordem, com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt. S. Exa.
tem dez minutos.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Prefeito Municipal, em
primeiro lugar, queria cumprimentá-lo, na medida em que levanta-se a discussão.
Acho que, realmente, independente de qualquer posição, isto é positivo. Agora,
acho que qualquer projeto que se apresente, a nível de planejamento, traduz a
visão que se tenha sobre uma cidade e eu confesso que, quanto mais conheço os
detalhes, ouço falar e acompanho os debates em torno desta proposta, mais me
convenço de que a visão que tenho da Cidade não é, em hipótese alguma, esta que
está prevista neste projeto. Não é na medida em que eu entendo que realmente
nós temos neste momento uma questão prioritária, absolutamente prioritária, que
é o número crescente das pessoas que são obrigadas a abandonar os seus lares
por impossibilidade de sustentar os aluguéis e que, à falta de opções, buscam
resolver a questão da sobrevivência na alternativa radical, final que se
coloca, que é a da construção de habitações clandestinas em áreas mais
diferentes. É óbvio que com isso não justificamos em hipótese alguma a invasão
de área, sobretudo em área verde ou de lazer, muito menos naquelas à beira do
rio Guaíba, mas nosso teor é de que a apropriação desses segmentos populares,
que se faz no concreto e na força da crise social gravíssima que o País está
atravessando, acabemos trocando por uma apropriação indireta dos segmentos de
elite. Eu dou exemplo típico, a partir das imagens que vi na projeção, do caso
da marina. A marina, por exemplo, fico me perguntando se os caíques das vilas
colocadas nas ilhas do Guaíba vão poder entrar na marina, estacionar na marina.
Se, realmente, o fato da proximidade da marina em relação ao projetado hotel
internacional não significa, indiretamente, exatamente, a utilização dessa
marina, fundamentalmente, por aqueles que vierem a se hospedar no hotel, ou
coisa parecida. Além do que, uma marina, por si só, isso nós tomamos na
realidade brasileira, do custo de barcos, iates e coisas parecidas, por mais
públicas que elas sejam, esse pública, evidentemente, é muito mais formal do
que de fato atingível pela maioria da população que não chega nem a ter
automóvel, que dirá um iate ou coisa parecida, porque estão a preços terríveis.
Essa é uma preocupação que temos. O segundo dado é o que eu li no
jornal ontem, que foi assinado um protocolo de intenções para a construção do
Teatro Municipal, não sei se o hotel internacional implica também o Teatro
Municipal, porque era um projeto que andou zanzando por aí, no ano passado, com
alguns debates dos quais participamos, inclusive, que o complexo teria teatro,
centro de convenções, hotel. Não ouvi nenhuma manifestação do Dr. Debiagi e me
interessaria conhecer.
Eu estou tentando seguir a ordem da abordagem de que V. Exa. realizou. A
questão da balneabilidade do rio Guaíba. Realmente, continuo me baseando nos
documentos que ao longo de todos esses anos conheci, inclusive aqueles
produzidos pelo debate original aqui na Casa e, depois, pela Comissão de
Inquérito da qual fui relator. O que realmente me parece é que, se atingirmos
balneabilidade, até acredito que talvez seja possível, mas acho complicada a
questão da potabilidade. Portanto, nesse sentido, não sei em que pé ficaria a
questão do uso da praia como tal. Confesso que os dados, até agora disponíveis,
não me convencem de que o Projeto Rio Guaíba, que eu entendo que é importante
como projeto de esgotamento da Cidade, resolva o problema da potabilidade ou da
balneabilidade do rio. São duas coisas absolutamente diferentes. Preocupa-me,
também, uma questão que eu formulei ao Sr. Prefeito num Pedido de Informações
encaminhado ao Executivo, do qual eu recebi resposta, que não me satisfez
totalmente, eu indagava se haveria desapropriações ou remanejo de áreas em toda
esta região. Daí me foi respondido que não haverá desapropriação, se necessário
haverá remanejo de área pública. Gostaria de ter alguns detalhes a mais sobre o
que significa este remanejo de área pública. Também me preocupa, no texto do
contrato firmado entre a Prefeitura e a empresa Arquitetos e Urbanistas
Associados Ltda., a letra “j” do item 3 da cláusula 1ª, que diz que o estudo de
viabilidade deverá prever áreas destinadas pela contratante à construção de
edificações residenciais e comerciais, para que o empreendimento seja
autofinanciável. Nós temos experiência suficiente, aqui na Casa, de Plano
Diretor, que por maior seriedade, por maior objetividade que o Projeto preveja
de prédios com distâncias determinadas, com alturas definidas de quatro andares
e etc. e tal, as modificações poderão ser feitas “a posteriori”, seja
diretamente, através do Conselho, seja através, inclusive, de Projetos de Lei
desta Casa, e que acabariam por se desvirtuar e se criaria, assim, a murada de
concreto tal como se criou ao longo dos anos em Copacabana, se criou em
Camboriú, em Santa Catarina, vem-se tentando criar em Florianópolis, inclusive
com a participação lamentável da Câmara de Vereadores, que aprovou uma
modificação absurda no Plano Diretor daquela Capital.
E, também, na cláusula 4º do mesmo contrato, que prevê assegurado à
contratada direitos autorais pertinentes ao desenvolvimento dos projetos,
urbanismo, arquitetura e paisagismo, me preocupa, porque eu gostaria de saber
quais são os economistas que estão, no momento, participando, se é que foi
desenvolvido em algum momento esta questão - do estudo de viabilidade econômica
- e acho que sem este ponto de partida será muito difícil concretizarmos
qualquer coisa. Queria discordar de uma expressão duas vezes usada pelo Dr.
Debiagi, de que o Poder Público é o detentor dessas áreas. Talvez tenha sido
apenas uma questão de expressão, mas entendo que o detentor dessas áreas é a
Cidade, a população de Porto Alegre, e não o Poder Público como tal, embora a
administração da área, inegavelmente, cabe ao Poder Público. Mas, na minha
visão, acho que o detentor dessas áreas é a Cidade, através da sua população,
através de vários setores. Nesse sentido, queríamos enfatizar que a Câmara,
independente de receber a visita de V. Exa. hoje, nesta tarde, que muito nos
honra e incita interesse na discussão para apresentação desse Projeto, já
iniciou a sua participação, pois a Comissão que o visitou, na semana passada,
já é um resultado de um trabalho que vem sendo feito aqui, na Câmara, de outras
entidades. Eu apenas faria um apelo, Sr. Prefeito, para que essa participação
não se restringisse aos encontros, mas se alargasse, exatamente na
possibilidade da intervenção no projeto, coisa que não ocorreu, por exemplo,
naquelas modificações do Plano Diretor, em que houve dezenas de contribuições e
nenhuma delas foi utilizada pela Secretaria do Planejamento no projeto que
acabou chegando aqui na Casa. Esta seria, então, a minha intervenção, dizendo a
V. Exa. que não me coloco radicalmente contrário ao Projeto, mas, realmente, a
visão de Cidade que tenho é um pouco diferente, e tenho medo que o Projeto não
se esgote na sua administração, pois é tradição, infelizmente, da administração
brasileira, um Prefeito não continuar as obras do outro, na maioria dos casos,
e que a gente acabe iniciando-o e parando, na metade do caminho, e aí a
situação ficará pior do que está no momento.
O SR. ALCEU COLLARES: Quando o Ver. Antonio
Hohlfeldt não se coloca radicalmente contra, eu acho que há uma conquista muito
grande. Isso é um avanço em matéria de debate público e discussão. E quero
fazer aqui um registro, recebi, com muita honra, o meu colega e companheiro da
Faculdade de Direito, com vários representantes de entidades, exatamente
levando um documento e pedindo o que o Vereador pede: a oportunidade de um
grande debate, não só com as associações, entidades representativas de classe e
com o povo, mas também com entidades especializadas no campo do paisagismo, da
ecologia, da biologia, do urbanismo, da arquitetura. Eu até disse ao Ver. Caio
que eu espero uma grande contribuição deste agrupamento de porto-alegrenses
preocupados com o desenvolvimento da sua Cidade.
Nós recebemos as preocupações do Ver. Antonio com o maior respeito
possível. Vereador este combativo, trabalhador. Tão combativo e trabalhador que
fez um Pedido de Informações para saber por que eu tinha faltado a uma
audiência com o Ministro. Mas não tem problema, eu posso falar sobre a minha
vida particular. É um direito que o Vereador tem de saber, pois, se eu vou a
Brasília como Prefeito, tenho que dizer onde estava. Poderia, evidentemente,
responder da forma mais absurda, como alguns podem estar imaginando - que eu
tenha tido um problema intestinal muito forte e não tenha podido comparecer.
Mas não. Coincidentemente - e está no documento que eu mandei a V. Exa. -, eu
estava recebendo, no Congresso, honrosamente, uma das maiores figuras da nova
política brasileira - o Deputado Lula, Presidente do PT. Uma liderança jovem,
uma das esperanças do nosso País e, nesse momento da audiência, Ver. Antonio, o
nosso Presidente, o Brizola, me disse que não seria bom sair nesta hora, porque
poderia parecer uma agressão a uma liderança popular. Por isto eu permaneci.
Mesmo assim, nós temos a obrigatoriedade de responder a todos os Pedidos de Informação
e, quando o Vereador não se coloca radicalmente contra, eu acho que estamos
diante da possibilidade de um debate racional, lógico, que nos leve,
certamente, ao aprimoramento da idéia, se for o caso. Não ouvi ninguém que seja
contra a idéia. Podem sugerir que não deva ser ocupada assim, que pode ser
diferente. Mas contra a idéia, nem lá no Instituto dos Arquitetos. O que eu vi
lá dentro não dá para contar, depois eu conto para cada um, porque foi muito
triste para o companheiro Debiagi o debate lá no Instituto dos Arquitetos; de
alguns, eu vi um enorme ciúme por causa da idéia dele, e de outros, foi
frustração profissional, porque ele tem um grande escritório de arquitetura e
também os outros não tiveram a idéia do projeto. Então, o problema da balneabilidade
e potabilidade do nosso rio Guaíba foi discutido pela Câmara e, outro dia,
fiquei muito alarmado quando foram algumas dessas entidades lá, e um cidadão
disse que a Câmara não tem condições de fazer um estudo desses, na frente do
Vereador Caio; agora, eu acho que aqui que é o grande conselho do povo, aqui
tem representatividade popular e legitimamente democrática; então, é para cá
que trazemos os projetos, até por lei. Quanto a balneabilidade e a
potabilidade, quero dizer que estamos seguindo a orientação de técnicos; não
fazemos nada sem a consulta de assessores especializados e eles nos afirmam que
isso é possível. Vereador, vamos encontrar alternativas para fazer este estudo;
o que não podemos fazer é deixar o rio como está, e muitos ecologistas
silenciaram durante muito tempo, e nós é que estamos levantando a discussão
sobre o rio Guaíba.
(Intervenção nas galerias.)
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
A Mesa solicita aos assistentes que permaneçam dentro da calma e da habitual
educação do nosso povo; A Mesa alerta que existe um dispositivo regimental para
a permanência dos senhores no Plenário.
O SR. ALCEU COLLARES: Passaria a palavra para Dr.
Debiagi.
O SR. JORGE DEBIAGI: Meu caro Vereador, com o
qual tivemos a oportunidade de debater logo que foi lançado este estudo,
através de uma rádio. Na ocasião, o ilustre Vereador ainda não conhecia esta
proposição e, se tinha uma posição inicialmente contrária, parece que hoje o
Vereador reconhece que a idéia tem alguma validade, tanto que não se coloca
radicalmente contra, portanto, está pronto a estudar. Nós também estamos
dispostos a discuti-la e o fórum para discutir a questão desta idéia em alguns
aspectos demanda tempo porque demanda a avaliação de teorias urbanísticas.
Quando V. Exa. fala em visão de cidade, que esta não é sua visão, é um direito
que o assiste. Na nossa visão, cidade é um ambiente que nos abriga, um conjunto
de espaços que nos abrigam, decorrentes das nossas atividades sociais e
econômicas. Uma cidade necessita, para o seu desenvolvimento, no conjunto da
sua população, prever o seu desenvolvimento social e econômico. Quando se prevê
a construção de um hotel internacional, se pretende que esta Cidade seja
integrada no contexto das cidades a nível internacional, porque esta é uma
cidade que se constitui numa das portas do desenvolvimento das suas relações
com o exterior. Esta Cidade se constitui e esta região recebe um terço de toda
entrada de turistas provenientes dos países do Prata e esta Cidade é uma das
poucas cidades brasileiras, capitais brasileiras, que não dispõe de um
equipamento dessa ordem. É uma das razões de propormos neste programa um hotel
com as características de um hotel internacional. São investimentos
elevadíssimos, investimentos na ordem de milhares de dólares que serão trazidos
à economia de Porto Alegre, serão locados nesta região, são empreendimentos de
nível de emprego elevadíssimo e que, além disso, é um investimento que traz a
Porto Alegre a sua possibilidade de receber e aqui permanecer um número muito
grande de pessoas que vêm tratar das relações culturais e negócios no seu
inter-relacionamento com as demais cidades.
A localização de investimento como esse não poderia ser diferente a não
ser a margem do rio, porque é uma das regiões mais importantes que esta Cidade
possui, ali e nesta região é quase que natural a sua localização. O próprio
Sindicato dos Hoteleiros de Porto Alegre defendeu a idéia da localização de um
hotel e da existência de um hotel deste tipo em função das vinculações que a
Cidade passa a ter e os benefícios que um equipamento desta ordem traz ao nosso
núcleo.
De qualquer maneira, eu fugi um pouco em relação à visão de cidade.
Ontem me entrevistaram com relação ao que nós pensamos da Cidade para o ano
2000, este parâmetro, que há muitos anos nós perguntamos, o que será do mundo
no ano 2000? O que será da nossa Cidade? Perguntava o repórter no ano 2000. A
cidade de Porto Alegre, no ano 2000, daqui a doze ou treze anos, será aquela
cidade que nós pensamos hoje, será o fruto da discussão, a consciência que a
população e Porto Alegre tiver sobre ela hoje, porque a Cidade se constrói no
tempo, ela evolui no tempo; portanto, eu acho que este debate em relação à
Cidade, teremos a oportunidade de fazê-lo se esta idéia for aprovada durante a
evolução desta idéia, para que se faça um debate realmente profundo sobre a
questão.
Fala o Vereador com relação à construção de subabitações, que ele mesmo
reconhece que esta não é uma região apropriada para esta localização e eu tenho
para mim, como cidadão, não como arquiteto, mas como cidadão consciente,
digamos, com uma certa experiência no relacionamento com estas questões, porque
a minha origem não é de riqueza, a minha origem é de pobreza e eu não desejo a
pobreza para ninguém, eu acho que nós temos que lutar todos juntos para que
este País resolva suas questões sociais e que seja possível, num breve prazo
menor, que possamos ter resultados, que não tenhamos uma população que
necessite morar em subabitações. Está é uma tragédia nacional. Nós temos que ajudar,
de mãos dadas, a que isto seja resolvido, seja sob qual regime for. A sociedade
brasileira, hoje, vive sob um regime capitalista, a sociedade brasileira, hoje,
se desenvolve dentro deste regime. Poderá mudá-lo, é uma questão de que, se o
povo brasileiro assim o achar conveniente, se o povo brasileiro tiver condições
para mudar o regime capitalista, ou trocar por outro, é uma questão histórica,
é uma relação que nós temos com a História, e eu faço parte daqueles que pensam
que isto deve ter uma modificação. Agora, enquanto isto não há, não podemos
retroceder, não podemos parar, não podemos deixar de fazer, temos que continuar
construindo uma sociedade melhor, mesmo que seja sob um relacionamento hoje
existente. Não podemos parar. Se pararmos, vamos sucumbir, e nós temos que
pensar grande. Então, dentro desta idéia é que digo o seguinte: quando se
recebe, Vereador, uma relação de elitismo nesta área, absolutamente, não posso
concordar com o senhor, porque a minha intenção, e o que está sendo proposto, como
idéia básica, é o contrário. Nós temos uma população de dois milhões e meio de
habitantes. Se nos perguntarmos quantas pessoas conhecem o rio e possam dele
usufruir, possam usufruir de uma paisagem, seria indiscutível a resposta,
porque saem de uma região urbana e de uma certa forma caótica. Se lhe
permitirmos a possibilidade de vislumbrar horizontes maiores, livremente, eu
tenho a impressão de que estamos contribuindo para que esta população, porque
usará este espaço na sua totalidade, e toda a população possa utilizá-lo. E não
vejo por que não, e levanto o exemplo de outras cidades brasileiras. Eu tive a
oportunidade de conhecer um grande projeto na cidade de Recife, na Praia da Boa
Viagem - que não é aquilo que eu desejo para a nossa Cidade - onde existem
edifícios com uma densidade média na ordem de 800 habitantes por hectare, e
esta nucleação não impede que toda a Recife utilize o mar da Boa Viagem. As
multidões que têm acesso a esta região é uma coisa fantástica. Mesmo no Rio de
Janeiro, o fato de Copacabana ter uma densidade de 1500 habitantes por hectare
que, absolutamente, não é o que está sendo proposto, muito pelo contrário, a
população das favelas tem acesso total e utilizam totalmente todas as praias do
Rio, desde Copacabana, Ipanema, etc. e todo o litoral do Rio de Janeiro é
ocupado pela população. Pobres e ricos convivem num espaço comum.
Não vejo por que uma idéia arquitetônica urbanística pode impedir em si
a utilização por grande parte da população em determinados espaços, nós não
vamos resolver a questão social do Brasil através de um espaço menos ou melhor
adequado. Eu acho, senhores, que quando se faz um espaço, deve-se fazê-lo bem,
porque fazendo-o bem nós estamos resgatando, nós estamos permitindo que haja
uma evolução social, nós não podemos andar para trás, nós devemos fazer que
haja uma evolução. Vou dar-lhes um exemplo: alguns estudos significativos foram
feitos nos projetos do metropolitano de Recife e de Belo Horizonte e nos
estudos realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro sobre o uso do metrô, que é
um equipamento extremamente sofisticado tecnologicamente. É equipamento de um
visual - no caso de São Paulo - invejado a muitos estados e países do mundo; a
população de São Paulo e do Rio, quando começaram a utilizá-los, o faziam com
um certo respeito, mas mesmo assim sujavam, riscavam. A orientação utilizada
pelo metrô de São Paulo foi esta: substituíam placas, limpavam a todo momento,
de tal maneira que a partir de um certo ponto a população de São Paulo de todas
as classes sociais passaram a usar este equipamento, cuidando dele. Tem filmes,
ilustre Vereador, que são emocionantes, de pessoas que estão entrando no trem,
com uma criança no colo e jogam o papel no chão, a pessoa rapidamente vai e
junta o papel. Se alguém entra numa estação de metrô com cigarro, antes de
entrar na estação já apaga o cigarro. Não porque tem alguém dizendo apague o
cigarro, ou porque tem uma placa é proibido fumar, mas por uma questão de
consciência; as pessoas tiveram evolução. E certamente levaram esta experiência
para os seus lares.
Eu gostaria de dar outro exemplo, muito criticado há anos, quando foi
feita a nova rodoviária de Florianópolis. Me perguntaram: O senhor não acha que
esta rodoviária é elitista? O senhor não acha que esta rodoviária é uma rodoviária
que vai estar gastando o dinheiro do povo de uma forma indevida? Respondi: não
dá para comparar a rodoviária de hoje com a rodoviária antiga de Florianópolis,
que era um caos.
A rodoviária nova de Florianópolis levou à população inteira do Estado
de Santa Catarina, por ser ela uma Capital que polariza toda esta região, um
exemplo de espaço. As pessoas hoje cuidam do espaço, sempre cuidaram do espaço
por eles doados e esse espaço utilizado por pobres e por ricos, porque a nossa
sociedade assim está estratificada. Mas o que eu quero dizer é que o espaço
quando bem feito ele recupera, doa, permite o desenvolvimento; e o detalhe
deste estudo, está se prevendo não só o acesso à integridade da obra como
também criando alguns pontos onde as pessoas possam se encontrar. Esses sete
pontos aos quais nos referimos são pontos em que equipamentos adequados à
sociabilidade serão alocados. A região inteira desta Cidade poderá utilizar
esses espaços e não será o espaço em si que vai discriminar a quem vai usar.
Pelo contrário, será feito, será concebido com a ajuda dos senhores para que
toda a população - naturalmente se essa idéia for aprovada - o utilize
plenamente.
Eu tenho outra questão levantada pelo Vereador com relação a remanejo
de áreas. Eu diria o seguinte: esta é uma área que hoje tem uma destinação
prevista no 1º PPDU para áreas tidas como áreas verdes, no entanto, sem
especificar que tipo de ocupação vai ter a nível urbano. O que está se propondo
nesta idéia é que, ao se transformar em projeto básico, se destine a esta área
um novo regime urbanístico.
É natural que aconteça isso como acontece em vários segmentos da nossa
Cidade. Nós vamos tratar, se esta idéia for aprovada, esta área com um novo
regime urbanístico, onde será prevista toda uma série de equipamentos e as
construções que poderão viabilizar a construção desses equipamentos.
Tem um outro item, já foi feita alguma referência, que diz respeito à
carta-contrato que realizamos com a Prefeitura. Ao discutirmos essa idéia com a
PMPA e seus órgãos de apoio, levamos a idéia. Naturalmente, como qualquer
trabalho profissional, tem que haver um contrato. Não podemos fazer um trabalho
profissional sem contrato. Então, é uma obrigação legal a realização do
contrato. Se desenhamos uma idéia e somos autores dessa idéia, a autoria da
idéia é inalienável.
Assim, esclareço que este contrato não monopoliza a idéia, pois, ao ser
feita a permuta do direito de construir, como, por exemplo, as empresas que vão
ali construir o hotel internacional ou algumas edificações destinadas a
apartamentos e escritórios, elas, evidentemente, trarão seus arquitetos para
fazerem esses projetos. Não sou o autor e não posso coibir, de forma alguma,
que um colega, trazido por uma empresa, faça um projeto. Não tenho esse
direito. É um equívoco quando se afirma que tenho direitos sobre o todo. Tenho,
sim, o direito de coordenar aquilo que eu projetar. Se eu fizer o projeto
básico de todo o sistema viário, ele, evidentemente, será de minha autoria e
por ele terei responsabilidade. Agora, investimentos feitos pela iniciativa
privada, não tenho condições. Aqueles arquitetos organizados em seus
escritórios, que têm os seus clientes, têm total e completa possibilidade de
realizarem seu trabalho profissional através desse mecanismo.
Fico à disposição, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Brochado
da Rocha):
Pela ordem, com a palavra, o Ver. Jorge Goularte.
O SR. JORGE GOULARTE: Senhor Prefeito, a minha
preocupação é quase igual à do Ver. Antonio Hohlfeldt, seria apenas uma
colocação a mais: estas subabitações que existem hoje na área, existe uma
previsão de retirada gradual, de forma que elas sejam transferidas ou as
famílias serão transferidas para áreas mais humanas? E como será feita esta
retirada e de que forma essas famílias que vivem hoje nesta área terão uma
possibilidade de moradia precária, no futuro, que espero que sejam melhores que
as atuais? Esta é uma das perguntas. A outra refere-se a um assunto pessoal
meu, e que peço licença para fazê-lo. É sobre o meu projeto dos centros
integrados de serviços essenciais, que perguntaria se não podem ser colocados
junto às creches após a venda das áreas nobres, se for aprovado por esta Casa.
O SR. ALCEU COLLARES: Respondo à primeira
formulação dizendo que, no fundo, o saneamento básico prevê a geração de
recursos capazes de permitir, o dia que chegar lá, se chegarmos, no caso da
necessidade de remoção, para lugares onde nós já temos, inclusive,
planejamento, infra-estrutura, água, esgoto e transporte coletivo melhores do
que nos lugares que estão. E nós estamos preconizando levá-los para
transmitir-lhes a propriedade. Terão um título de propriedade. Pela primeira
vez este grupo de pessoas terá a condição de elevação de sua dignidade, como
proprietários de um módulo com o mínimo de infra-estrutura. Na Chácara da
Fumaça temos uma área grande, que resultou de uma permuta, aqui pela Câmara, da
Rua Ary Tarragô. Então, temos áreas capazes de permitir, se for o caso, se for
aprovado o projeto, pode chegar lá; agora, pode nem ocorrer isto. A previsão
existe. Dos seus centros integrados, há possibilidade de colocá-los junto à
idéia e, inclusive, se parecem muito com a preocupação que estamos tendo,
deles, junto às próprias creches. Gostaria de destacar no projeto a marina
pública, que causou impacto muito grande na sensibilidade de alguns Vereadores.
É para um determinado segmento. Nós temos sete locais com vestiários, bares,
restaurantes modestos, e trinta e tantos campos de futebol ao longo da orla,
campo para a prática de basquete, futebol de salão, ginástica. Eu diria que
vamos até civilizar aquela zona para um belo e bom uso. Porque tal como está
não é possível. Perguntaria: quem poderia passar hoje às 10 horas nesta área?
Ver. Jorge, se nós fizéssemos apenas a Beira-Rio, seis quilômetros de via
pública, isolada, num deserto, quem passaria às 10 horas da noite? Acho que
temos condições de, neste debate, de apanhar esses registros, e eu só gostaria
de repetir: estamos recebendo críticas de algo que ainda não existe. Estamos
com um estudo de viabilidade urbanística, arquitetônica, econômica,
paisagística e ecológica, que ainda não é.
O Sr. Jorge Goularte: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Esta preocupação minha com o futuro é altamente
positiva, modéstia à parte, porque se não pensarmos nesta gente agora, como
poderemos aprovar o projeto?
O SR. ALCEU COLLARES: Não. Não é nesta parte. Eu
concordo com V.Exa. E temos a alternativa de deixarmos assim e se permitir a
invasão de toda a área. Se as pessoas quiserem, podem até estimular isto. Na
área pública. Pode chegar. Agora, se podemos dar uma área decente, uma
propriedade para estas criaturas, porque eles ali, mais cedo ou mais tarde virá
alguém que vai tirá-los de lá. No Dilúvio, é a água quem vai tirá-los. E eu
fico encantado com algumas almas sensíveis no momento em que fazem críticas de
algo que não existe. Vamos deixar claro: é um estudo de viabilidade urbanística
no setor econômico, paisagista e ecológico. O Projeto não existe. Então, quando
vier para cá, os companheiros, se quiserem, podem alterar tudo. A Câmara tem
condições, tem Comissões permanentes, podem contratar arquitetos daqui, fora
daqui, e fazer um projeto novo. Outra alternativa é deixar como está. Ou deixa
como está, ou aproveita a idéia melhorando, aprimorando, no momento em que partirmos
para o detalhamento técnico, que não existe. Como vamos debater um detalhamento
técnico de um projeto que não existe? E se nós estamos debatendo com a
população, e volto a repetir para algumas pessoas que estão reclamando isto,
que nós vamos dar. Tem um boletim que diz que o Prefeito Alceu Collares não
deve conhecer bem a Cidade e os seus habitantes. Tanto conheço que consegui
votos para me eleger Prefeito.
(Aparte inaudível.)
Este que falou nunca se submeteu a votos. Eu sempre fui bom de voto.
Nunca joguei futebol, era ruim, tentei, mas não deu. Agora, voto era comigo
mesmo. Eu fiz 75 mil votos em 70, 74 mil votos em 74 e 120 mil votos sem
dinheiro, sem comprar uma consciência que fosse. Só em nome disto que gostaria
que houvesse um pouco de estima por quem está aqui. Um pouco de estima, só. Não
precisa nem respeito, só estima.
E o combate à nossa idéia pode ser feito. Ninguém pode gerar uma idéia
que queira, por sua vez, gerar unanimidade. Quanto mais polêmica a idéia,
melhor. Ninguém atira pedra num cachorro morto. Este cachorro que está aqui não
está morto, por isso é que está recebendo pedradas.
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, com a palavra,
o Ver. Werner Becker.
O SR WERNER BECKER: Sr. Prefeito, em primeiro
lugar eu gostaria de agradecer o acolhimento da sugestão que fiz na FEDERASUL.
Tenho certeza que falava em nome da Casa, embora sem procuração expressa, para
que nenhum projeto, nada fosse enviado a esse respeito durante o recesso
parlamentar, e V. Exa., inclusive, deferiu imediatamente. Veja V. Exa. como é
importante e produtivo que as coisas operem desta forma, inclusive para evitar
equívocos e aumentar a transparência de qualquer proposta ou projeto. Eu acho
que isto deve servir de experiência no relacionamento Executivo/Legislativo. De
outra parte, quero dizer a V. Exa. que a crítica de coisas que não foram feitas
ainda, conforme diz V. Exa., acho que a esta não significa condenação, pois não
adianta nada criticarmos depois que está feito, porque o que está feito, está
feito. Entenda que crítica significa debate, discussão, polêmica. Portanto, não
pode agastar V. Exa.
O SR. ALCEU COLLARES: Eu tenho o direito de ter a
minha sensibilidade. Eu sou sensível.
O SR. WERNER BECKER: Sim, mas V. Exa. não pode
abalizar o nosso comportamento em função da sua sensibilidade.
O SR. ALCEU COLLARES: Werner, me deixa exercer o
direito de ser um tipo sensível.
O SR. WERNER BECKER: Me deixe ter o direito de
usar todas as minúcias, também.
O SR. ALCEU COLLARES: A recíproca é verdadeira, e
de minha parte é sincera.
O SR. WERNER BECKER: Se V. Exa. é sincero neste
momento, eu sou sincero em todos os momentos. Eu, primeiramente, gostaria de
fazer uma indagação, porque se fala muito no problema do convênio. Eu gostaria
de saber se é convênio ou contrato.
O SR. ALCEU COLLARES: É convênio.
O SR. WERNER BECKER: O pouco que sei de Direito
Administrativo me diz que o convênio é denunciado unilateralmente, a
qualquer momento, sem nenhuma
motivação. Não sei por que isto, mas deve haver algum motivo que preocupa uma gama
de juristas. Tenho a impressão que é um contrato e não um convênio. Se é
convênio, não vejo nenhum problema.
Tenho certeza de que, de uma forma ou outra, a Cidade vai aproveitar
essa área que está ociosa. Mas o que me preocupa é quem vai suportar o custo
social da infra-estrutura destas obras. (Palmas.) Eu não vejo nenhum motivo
para ser aplaudido, pois estou apenas fazendo uma pergunta. Quem deve ser
aplaudido ou vaiado é o Sr. Prefeito, quando responder. Este problema do custo
social de infra-estrutura preocupa, porque o tipo de obra, necessariamente,
vai, depois ou durante, apresentar uma demanda e até uma transformação, que
deve ser grande e certamente onerosa neste serviço de infra-estrutura. E não me
parece justo que toda a população pague. Eu não estou nem falando em termos de
classes que vão aproveitar a obra, porque concordo com a idéia fundamental que
este Projeto pode ser aproveitado, mais ou menos, por todas as classes. Mas não
acho justo que um segmento territorial da Cidade receba o pagamento de um custo
social que há de ser suportado por todo o contribuinte lá da Zona Norte, de
Petrópolis, etc. Eu penso que este é um problema central. Os que receberão com
maior intensidade têm que pagar o custo social também com mais intensidade.
Esta é a pergunta que eu faço. É isso que eu chamo crítica, estudo, dialética
do problema. De outra parte, queria perguntar, se V. Exa. já puder informar,
como é que V. Exa. pretende aviar a instrumentação legal para o projeto, se num
projeto só, ou se numa seqüência de projetos. E, para encerrar, não me parece
tão importante, mas tem a sua relevância, acho que, neste momento social,
embora tenha visto uma marina em Havana, com o talento e o engenho do Arquiteto
Dr. Debiagi, talvez possa aproveitar o espaço para uma outra destinação que
corresponda às necessidades sociais mais urgentes da Cidade, como sugestão de
leigo e preocupado com o problema social, mas, fundamentalmente, o problema do
custo social desta obra.
O SR. ALCEU COLLARES: Querido Werner, esta
amizade vem de longe, mas sempre nos bicamos cada vez que vamos debater, é uma
beleza, mas eu tenho que ter muito cuidado, porque ele tem uma velocidade
mental muito grande, e a minha é da época do carro de boi.
O SR. WERNER BECKER: Já que V. Exa. cita tanto
os ditados de Bagé, eu gostaria de dizer um lá da Baronesa do Gravataí, onde
nasci: “tem muita gente que se faz de morto para ganhar sapato novo”.
O SR. ALCEU COLLARES: Tenho certeza de que não é
o caso no nobre Vereador. Então, vou ver se consigo colocar de maneira mais
clara o que repeti, acho que o Vereador estava presente desde o início, e veja
a minha dificuldade de expressão, e de expressar o que vai na alma; isso é
problema dos oradores. Têm oradores que não conseguem se expressar com clareza,
com fidelidade e concisão; quem trabalha em rádio e televisão sabe disso, não
pode estar conversando muito; mas eu tentei repetir, pois é uma das técnicas, o
problema da repetição, repeti que se eu tivesse 1 bilhão e 500 milhões de
cruzados na Prefeitura, de recursos provenientes da contribuição tributária do
povo de Porto Alegre, não poderia pensar nessa obra, mas sim em investimento
social com obras, partindo de escolas, postos de saúde, saneamento básico,
regularização e urbanização das vilas populares. Isto eu já disse duas ou três
vezes aqui, mas é minha dificuldade em expressar que talvez não tenha levado o
Vereador a entender que nós vamos tentar buscar na empresa privada, os
recursos. Quem quiser investir em hotel, no shopping e em seis conjuntos de
prédios de apartamentos com lojas, terá de colocar recursos financeiros para
ocupar as áreas, e são esses recursos que se destinam a suportar as despesas da
infra-estrutura toda. Tudo foi calculado. Houve um cálculo de parte do
arquiteto que leva a 1 bilhão e 500 milhões a preço de maio, o metro quadrado a
3,50, que é a situação de mercado. Não vamos colocar para a realização dessa
obra, que preconizamos em cinco anos, nenhum tostão. O contribuinte não irá
colocar um pila, quem irá ganhar será o povo de Porto Alegre. Quem chegar na
Praça XV de ônibus, pode caminhar três minutos e chegar à praia, onde terá sete
clubes abertos. Isto tem doído em muita gente. Nosso Partido tem muita
sensibilidade, temos compromisso com o social, basta ver isso das escolas, que
já falei. Sete espaços com um equipamento modesto e mínimo, bares,
restaurantes, vestiários, sanitários. As pessoas poderão chegar lá e tomar uma
cerveja e tomar seu banho. O importante nisso é que ao longo de 5km, fora a
marina, que foi objeto de tanta atenção, pois não é só em Cuba que tem, eu já
vi isso na Rússia também.
O SR. WERNER BECKER: Eu não fui à Rússia.
O SR. ALCEU COLLARES: Eu já, e é lamentável que
V. Exa. não tenha conhecido uma civilização que, sem dúvida alguma, deu um
salto qualitativo muito grande. Ao longo de 5km teremos 30 campos de futebol.
Vamos retornar a devolver à população o campo de futebol, campo de basquete, de
vôlei, pista de atletismo, simples, em cima da areia, em cima de gramados que
possam ser feitos. Isso aqui, se não é para o povo, eu não sei para quem é. E
eu gostaria até que se fizesse uma investigação, uma pesquisa, num dia quente
que se vá lá naquelas praias do Guarujá, do Veludo, se não é o puro povo que
vai para lá. Quando volta, volta sacrificado, chacoalhado pelos ônibus com suas
crianças, com os seus filhos. Este povo pobre também gosta de se aproximar da
praia. Agora, se nós fizermos isso aqui, ele vai vir aqui. Por que alguma
pessoa pode imaginar que tudo vai ficar fechado para a elite? Isso é um
argumento que conheço de longa data.
O SR. WERNER BECKER: Até disse expressamente que
não concordo com esta questão. Agora, a minha pergunta é que evidentemente a
incrementação desta área vai aumentar, onerar o custo e infra-estrutura daquela
obra. No momento e no desenvolvimento. Eu pergunto se a Prefeitura,
evidentemente, previu isso e como quer descarregar, e aproveitem aqueles que
mais vão aproveitar, que acho que devem pagar mais este ônus do que aqueles que
vão ter menos aproveitamento e menos condições de pagar.
O SR. ALCEU COLLARES: Acho que não vou ter
condições de superar esta dificuldade na tentativa de explicação e
esclarecimento. Nós vamos buscar dinheiro na empresa privada. A indústria
hoteleira que queira ocupar aquele espaço vai ter que pagar por aquele espaço.
Os shopping centers, os empresários que quiserem aquele espaço, vão ter que
pagar e pagar muito. Quem quiser construir ali prédios de apartamentos e lojas
vai ter que pagar ou através de permuta ou de outra forma. É daí que vai vir o
dinheiro para a infra-estrutura. Então vou repetir, Ver. Werner, o dinheiro não
sai dos cofres da Prefeitura. O dinheiro para esta obra - e aqui está a idéia
grandiosa, a grande novidade que surge do nosso companheiro Debiagi, e já vi
outros projetos lá, mas os seus autores não tiveram a criatividade de dizer
como fazer, de onde tirar recursos. Que não venha efetivamente recair sobre
todo o contribuinte de Porto Alegre. V. Exa. coloca muito bem, mas eu lhe
respondo, também, que neste caso os recursos serão gerados por empresários que
queiram fazer investimentos na área.
O SR. WERNER BECKER: Como se pretende fazer a
instrumentação legal do projeto, se por partes ou por todo?
O SR. ALCEU COLLARES: Primeiramente, estamos
pedindo um projeto de lei para a Câmara para que aprove ou não aprove um estudo
de viabilidade. E aqui nós temos, também, estamos trazendo aqui para a Câmara
um regime urbanístico para essa gleba, e isso se fará por 3 ou 4 fases, Ver.
Werner. Depois, se porventura for aprovado esse estudo, nós encaminharíamos os
projetos com detalhamento técnico e as áreas com as prévias às avaliações, para
que, se os Srs. Vereadores quiserem, alterem os projetos, modifiquem os
projetos, rejeitem os projetos, vejam se as avaliações são corretas ou não. São
duas ou três vezes que a Câmara vai se manifestar sobre esta matéria.
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
O próximo orador inscrito é o Ver. Caio Lustosa, que tem dez minutos.
O SR. CAIO LUSTOSA: Sr. Prefeito Municipal,
Arquiteto Jorge Debiagi, Senhores Vereadores, senhores participantes desta
reunião. De certa forma sou o responsável maior, mas não, evidentemente, o mais
importante do debate que agora está se aprofundando em torno do chamado Projeto
Praia do Guaíba. Isto porque recebi em meu gabinete, por acaso, não em junho deste
ano, mas em abril, ou logo depois, início de maio, uma cópia da carta-proposta
firmada pelo Prefeito com o escritório de Arquitetos Reunidos, que é liderado
pelo Arquiteto Debiagi, uma carta-proposta perfeitamente legal, pela qual,
dentro dos princípios da licitação, é possível a um administrador pedir a
alguém com destaque em determinada atividade profissional gerar um estudo de
viabilidade, como alguém que tenha as condições de capacitação técnica de
destaque para fazê-lo. Não há dúvida que podia fazer este contrato. Agora o que
de logo me causou espanto, como Vereador, foi encontrar no texto deste contrato
uma cláusula, a cláusula de número 4, em que se expõem as condições do
desenvolvimento do estudo e que, uma vez aprovada esta carta-contrato - seria
aprovada por quem? Evidentemente pelo 1º contratante, o titular do Executivo
Municipal - fica assegurado ao escritório do Arquiteto Debiagi a formalização,
o avanço de todos os contratos, diz assim: “de caráter do plano jurídico,
econômico e mercadológico”.
Então, aí já vem uma restrição - de minha parte e entendo que de
pessoas que melhor que eu entendem a questão das licitações e deste contrato
entre a área pública e privada, no campo dos bens públicos, contratos
administrativos -, já vêm uma perplexidade no sentido de que neste primeiro
estudo de parte do Arquiteto já fica questionada a questão de se atribuir ao
Arquiteto, ao seu escritório, a formalização de todos os contratos de
licitações sobre esta área paisagística, urbanística, etc. Porque isto aí é uma
gama enorme de contatos que vão decorrer. E aí é que eu vejo uma ilegalidade
que me parece flagrante, que se atribua, monopolisticamente, o direito ao
Arquiteto, ainda que o seu projeto possa ser considerado o mais viável do ponto
de vista do interesse da Cidade, de ele ter o direito de, se sobrepondo e se
colocando em lugar do Poder Público, formalizar os contratos.
Eu acho que é indisponível de parte do Executivo Municipal o direito de
formalizar estes contratos que, a meu ver, cada um deles terá que ser submetido
a uma licitação, porque senão o Executivo Municipal vai ficar completamente à
mercê dos grupos interessados, dentro de um sistema capitalista como este,
capitalismo não-selvagem, porque os selvagens não faziam isso, mas um
capitalismo absurdo, bem civilizado para quem se beneficia dele e cruel para
quem não se beneficia.
Então, eu vejo que esta cláusula 4ª vai ter que ser revista, porque
acho que se deve considerar não-escrita e aí a grande ressalva que eu encontrei
na formalização dos contratos futuros que o Executivo vai formalizar com a
iniciativa privada, aliás, não o Executivo, mas o escritório do idealizador do
Projeto. Isso aí me parece que não tem amparo legal.
Agora, eu fico mais tranqüilo quando vejo que V. Exa. e o próprio Dr.
Debiagi diz que tudo poderá ser alterado. Acho que esta questão é base. Agora,
o que ocorre também é que - isso já vem sendo acompanhado pelo público - há uma
boa atuação de “marketing” em torno desta idéia. V. Exa. recebe até um elogio
por isso. Em termos de vender a idéia à Cidade, V. Exa. é exitoso bastante, mas
nós, que já temos experiência de outras idéias malogradas nesta Cidade e que
foram vendidas com tanta publicidade - o Projeto Rio Guaíba, por exemplo, foi
assim, sob holofotes e patrocínios de uma então poderosa cadeia de comunicação
desta Cidade, que manobrou, pois o Projeto Rio Guaíba foi um dos grandes
escândalos, o projeto teve que ser submetido a uma CPI. Mas, felizmente, a
Câmara não aprovou todas as conclusões, aprovou só uma parte desse projeto.
Então, eu vejo que há uma certa criação de ilusão para a população que
hoje já esta descrente das autoridades públicas em geral neste País. Isso é uma
verdade que V. Exa. deve convir comigo que existe esta descrença. Por exemplo,
se afirmou que o Projeto Rio Guaíba, em cinco anos a população estaria tomando
banho e um Prefeito da época sustentava que iria beber água cristalina em
Ipanema. Essas coisas vão arrefecendo a credibilidade pública. Vejo aí certas
confusões nesse “merchandising” da idéia, quando, por exemplo, se mistura a
questão do Projeto Rio Guaíba com praia do rio Guaíba. É criar uma ilusão ao se
sustentar que vai haver praia ali. Há uma pirambeira de 9 metros naquela área,
a não ser que se faça mais um aterro de 200 ou 300 metros. Não se pode criar
ilusão de que o porto-alegrense vai tomar banho no Guaíba. Não vai ser
balneável, poderá, sim, somente em Ipanema ou Assunção, se houver um projeto
integrado de prevenção da poluição desde o nível industrial e esgotos, porque
esse projeto já foi reformulado nas estações de tratamento projetadas na
segunda fase e que essas tenham êxito. Então, essa ilusão não se pode criar.
Não se vai ressuscitar uma praia na Praia de Belas.
Compreendo a angústia de um arquiteto que, dentro desse estado de
calamidade em que o País vive, de pobreza quase que absoluta dos grandes
contingentes, tem de construir algo na sua área. Isso não é censurável.
Questiono-me sobre a questão das ocupações, de se estar censurando os moradores
da Vila Alceu, por exemplo, que é uma vila em sua homenagem; eles estão ali,
mas terão de sair dali. Essas ocupações, como aqui, frente à Câmara, todas, não
tem como se deter com projetos da monumentalidade deste. A questão das
ocupações que, para o Poder Público, felizmente o jargão de V. Exa., assim como
de meu Governador, é invasão; mas, invasão é, por exemplo, o que faz o Ministro
das Minas e Energia quando põe um apartamento de 300 metros quadrados, pago
pelo Senado, para que sua filha coloque os presentes de casamento. Isso é
invasão. Agora, quando o povo ocupa os espaços, até públicos, ele está
exercendo um direito de cidadania, já que o Estado não lhe dá o direito de
morar. São estas as ressalvas que gostaria de fazer.
O SR. ALCEU COLLARES: É outra figura de nossa
estima, companheiros que fomos de Faculdade de Direito, o Ver. Caio tem tido
sempre um desempenho muito sério e muito responsável, preocupado em exercer na
plenitude o seu mandato. Acho que isto é importante. Ele estuda profundamente
as matérias. Por isso e pelo mandato que detém merece toda a nossa consideração
e o nosso respeito. Sobre o problema jurídico, deixaria de enfrentá-los agora,
pois até isto pode ser alterado. O próprio Debiagi fala que outros projetos
podem surgir durante a fase de execução. O que me alegra é que o Ver. Caio
Lustosa, também, como o Ver. Antonio Hohlfeldt, admitem a possibilidade de
discutir a idéia. É só o que estamos pedindo. Se porventura a Câmara aprovar
agora um estudo de viabilidade, não é o projeto. Depois, se fizermos os
projetos errados, a Câmara nega a possibilidade. É indiscutível que é uma idéia
nova, gerando polêmica, que pode ser condenada ou não.
A parte jurídica está enfrentada pelo companheiro Debiagi, que vai
tecer algumas considerações.
O que me alegra nessa nossa jornada, é que, primeiro, Caio, vamos
atender todas aquelas formulações que fizeram, de um grande debate, não só
porque vocês pediram, como parte interessada e entendidos na matéria da
ecologia, urbanismo, arquitetura, como era da nossa intenção e já vínhamos
fazendo. E não podemos, evidentemente, desprezar os outros setores onde fomos.
E eu sei que o grupo que está aqui não se considera o proprietário da verdade,
é um grupo bem intencionado, que quer um grande debate e que, evidentemente, há
de ter qualquer um tipo de estima por 32 entidades onde discutimos e recebemos
apoiamento.
Então, eu não teria nenhuma outra consideração. Eu me considero
extremamente gratificado porque vejo que ninguém é contra a idéia. Podem ser
até contra os métodos que usamos de chegar até aqui, mas, isso é hora e é
possível a gente alterar, porque o que interessa é o bem da Cidade. Se a Câmara
chegar à conclusão de que não tem que mexer, se a Câmara chegar à conclusão das
idéias do Dr. Caio, de que deve permitir a ocupação dessa área ou ficar como está,
nós a respeitaremos. A decisão da Câmara será respeitada por nós.
Muito obrigado, e o Dr. Debiagi falará.
O SR. JORGE DEBIAGI: Acho que as perguntas do
ilustre Ver. Caio Lustosa oportunizam a que se possa prestar esclarecimento
sobre algumas questões. Eu começaria me referindo à questão de pirambeira
existente nessa orla. Nós temos um mapa, Ver. Caio Lustosa, que é resultado de
um levantamento feito quando da dragagem e aterro dessa área; realmente, em
alguns pontos existem algumas covas realizadas quando do aterro, porque esse
aterro, quando foi feito, quem o realizou não se preocupou com essa questão de
que essa região poderia tornar-se uma praia, quem sabe em cinco ou dez anos.
Praia como tínhamos antes, como a Praia de Belas, e como temos hoje em Ipanema.
Quero dizer que essas covas, tecnicamente, são perfeitamente resolvidas a
custos muito econômicos, que são frutos de uma suplementação de dragagem, que
podem recuperar essas covas. Essas covas são todas mapeadas, são todas elas
detectadas e resolvidas. Eu tenho alguma experiência nesse assunto porque tenho
tratado na administração de um clube que tem problemas desse tipo e que temos
resolvido, com recursos muito pequenos, questões dessa ordem. Não é uma questão
que vamos chamar de fundamental para que possa vir a ser ou não uma praia. Com
relação à questão do contrato de que V. Exa. faz referência, desde abril, um
contrato que, evidentemente, se tem público, o que eu queria esclarecer é o
seguinte: eu não sou um empresário, sou um arquiteto, que tem uma figura
jurídica, chamada Arquitetos e Urbanistas Associados, sob a qual desempenho
minha atividade. A primeira retificação a ser feita é que não tenho
absolutamente nada contra empresas, mas vamos deixar claro que sou um arquiteto
independente e que tenho a figura jurídica sobre a qual trabalho e através dela
que são realizados os meus trabalhos. Outra questão que deve ficar esclarecida
é que esta cláusula 4ª prevê, não a contratação por parte do Poder Público,
mas, sim, prevê as regras que poderiam ser estabelecidas com relação a futuras
contratações que porventura possam ser executadas com o setor privado, como uma
norma e não como uma exigência. Vou ler textualmente a cláusula, para que todos
possam entendê-la: “Na hipótese de aprovação do estudo e viabilidade pelo
Município, fica assegurada à contratada os direitos autorais pertinentes ao
desenvolvimento dos projetos de urbanismo, arquitetura e paisagismo. E a
coordenação de todos os demais projetos complementares”. Quero esclarecer que,
quando se faz uma obra de arquitetura, não se pode alienar do autor do projeto
a coordenação dos projetos complementares. Vou esclarecer aos senhores o que
são os projetos complementares. Quando se faz um projeto de edificação, entram
na execução desse projeto vários profissionais. Quanto mais complexa for a
edificação, mais complexo for o conjunto urbano, maior número de profissionais
entram e o autor da idéia coordena a execução desse projeto. Eu tenho
experiência profissional de 26 anos, realizei milhares e milhares de metros
quadrados de soluções urbanísticas neste País todo, e sempre ocorre assim.
Continuando a leitura da cláusula: “complementares necessários à execução da
obra” - não se trata de coordenar as obras, se trata de coordenar os projetos
complementares relativos ao desenvolvimento do projeto – “bem como a
coordenação de equipe especializada no estabelecimento do plano jurídico,
econômico e mercadológico”. Não pode ser diferente numa questão tão complexa,
que tenhamos outras equipes especializadas no seu desenvolvimento e a
coordenação sempre será do autor da idéia, inalienável, sendo - agora vem a
parte talvez a mais importante - o custo destes trabalhos faturado diretamente
contra as empresas interessadas na implantação destas mesmas obras, de acordo
com as tabelas de ressarcimento profissional das respectivas áreas de
atividades, sempre, em qualquer situação, sem ônus para o Município. Portanto,
o que está aqui dito é o seguinte: como se trata de uma permuta, a idéia toda
entre a área privada e o Poder Público, e como a idéia básica é que a própria
área privada estabeleça os contratos com os seus profissionais, para que esta
idéia tenha desenvolvimento, estes contratos serão feitos diretamente com a
área privada. No entanto, prevê, no Projeto de Lei que ora o Sr. Prefeito
encaminha à Câmara de Vereadores, um gerenciamento público, não poderia ser
diferente, que vai fazer todo o controle destas atividades. Não só com o
arquiteto que está aqui presente, mas todos os arquitetos que venham,
porventura, ter assinatura. Não tem monopólio, é isto que eu quero esclarecer.
Poderá até ser alterado, mas da nossa parte não há intenção de monopólio.
Aqueles arquitetos, aqueles escritórios que tiverem habilidade, capacidade e
que estiverem dentro do mercado, certamente, neste volume, neste conjunto de
obras, estarão habilitados.
O SR. ALCEU COLLARES: E há um outro dado. Eu não
poderia entregar todo para ele, por melhor que ele seja, por mais confiança que
ele desperte e gere. Eu cairia numa situação bastante difícil. Como eu
explicaria entregar uma função múltipla, que é a supervisão sobre um regime
urbanístico que a Câmara poderá aprovar? Daí ficaria um arquiteto da atividade
privada supervisionando tudo, coordenando tudo, articulando tudo? Não. Tem uma
proposta de uma gerência para o projeto, um coordenador técnico, um coordenador
administrativo, e será feito segundo diretrizes urbanísticas aprovadas pela
Câmara, e será fiscalizada e supervisionada pelo Executivo.
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, Ver. Marcinho
Medeiros.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Sr. Prefeito, senhor
arquiteto responsável pela apresentação
do projeto, nós temos a preocupação primeira de perguntar ao arquiteto, para
uma posterior resposta, se na área próxima no estádio do Internacional foram
levados em consideração os dias de jogos e o público de toda Porto Alegre,
arredores e até interior, que aflui para aquele local. Me parece que o Projeto,
do ponto de vista técnico, é discutível o aproveitamento da forma como está
sendo apresentado. Em segundo lugar, quero discordar do Sr. Prefeito, quando
ele diz que está recebendo críticas por nada. A coisa existe, e a prova é que
está na frente de todo mundo, e foi projetada; se a idéia existe, nós temos que
discuti-la; podemos discordar da mesma. Concordamos com o Sr. Prefeito da
necessidade de urbanizar a área do Guaíba, especialmente do aterro, mas
discordamos com relação à forma como é apresentado este projeto de urbanização.
É um ponto de partida, não há dúvida nenhuma; é uma idéia patrocinada pela
Prefeitura, também não há dúvida nenhuma; também não há dúvida de que é uma
idéia elitizante, uma obra faraônica. Eu discuto, então, que vantagem levaria a
iniciativa privada para investir nesse Projeto? Porque o capitalista não
investe sem levar lucro. E pergunto ainda: o custo social do Projeto, para a
população de Porto Alegre, compensaria esse tipo de realização? Ocupar as
margens do Guaíba, dar uma melhor infra-estrutura ao Guaíba, não é somente uma
preocupação dos moradores da Zona Sul. Tenho na Zona Sul parentes, amigos, e
concordo plenamente com eles e com a sua preocupação em transformar o aterro do
Guaíba numa área que a população possa aproveitar. Mas os moradores da Zona
Norte também irão suportar o peso, econômico ou não, mas principalmente social,
da forma como se dará a ocupação do espaço. E me parece que esta forma, pelo
menos como está proposta, é uma forma altamente capitalizante e altamente
privilegiante para as camadas mais bem servidas da nossa população que, no
verão, vão para a beira do oceano, ou então sobem até o Rio de Janeiro e até
para fora do País. Enquanto isto, a população mais deserdada do sistema fica
curtindo o verão em Porto Alegre. Então eu pergunto, esta seria a forma - que é
um sonho - de ocupar um espaço num país subdesenvolvido, com grandes problemas
sociais a serem resolvidos? Esta é uma área que deve ser entregue à sua
população, para que a população possa usufruir dela, e me parece que é muito
limitante à camada que mais necessitaria usar o Guaíba para tirar o proveito
que o Guaíba realmente pode oferecer à sua Cidade. Concordo plenamente com as
preocupações dos moradores da Zona Sul, alguns que estão aqui, amigos meus
particulares. Nós achamos que, da forma como está, não pode continuar. Algumas
soluções têm que ser dadas. Como, por exemplo, ao problema dos deserdados do
sistema que estão colocando casinhas na beira do riacho e na beira do aterro. O
que fazer com eles? Onde colocar este pessoal? Este é um ônus social que,
provavelmente, a Prefeitura terá que abraçar. A minha segunda preocupação:
construções inúteis nós já temos aos montes neste País. Umas patrocinadas pela
Prefeitura Municipal, outras pelo Governo Estadual e outras ainda - e
principalmente - pelo Governo Federal, é só acompanhar a série que está
passando na televisão, que nós vamos nos defrontar com isso; sei que a
iniciativa privada é uma solução dentro do sistema capitalista que pode até
beneficiar, a Cidade vai ser deles, parte importante dela para beneficiar uma
minoria, em termos de exploração comercial da área. É uma preocupação que tenho
e pergunto ao Sr. Prefeito se os setores socialistas do PDT foram consultados e
qual foi a manifestação deles?
O SR. ALCEU COLLARES: Respondo com enorme prazer
ao Vereador, dizendo que esta não é uma Norte-Sul do Sarney, que é Presidente
de um Partido - dois Partidos - um só? Há uma disputa com relação ao Presidente
da República que não compete ao PDT, não tem nada que ver com o PDT; não é a
compra de 320 apartamentos, pela Previdência Social, que resultou numa liminar,
por três milhões e quinhentos mil cada um, e foram avaliados em 550 mil; esta é
uma obra que resulta de uma boa intenção e que pode até não se criar. V. Exa.
mesmo disse que há necessidade de se urbanizar a área. O que estamos fazendo? É
uma idéia audaciosa que estamos tendo a coragem de apresentar publicamente, e
que pode ser totalmente rejeitada; se for rejeitada, muito bem, nós cumprimos a
nossa tarefa como homem público. Agora, dizer que toda esta obra é elitizante,
se tem passarela para eventos populares? Quem é que faz o carnaval? É o negrão:
eu e minha gente, preponderantemente, para não fazer racismo;
preponderantemente, quem tem samba no pé é o crioulo.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Mas, lamentavelmente,
alguém paga para lhe ver dançar; as pessoas humildes fazem o carnaval. Há
mesmo, no carnaval, que é um evento eminentemente popular, um comércio bastante
intenso desenvolvido porque as pessoas que queiram assistir à festa terão de
pagar.
O SR. ALCEU COLLARES: Carnaval é a manifestação
mais democrática que existe e os agentes carnavalescos são os mais explorados
pelo Poder Público e não cobram nada para ninguém. Ao contrário. Se V. Exa.
soubesse como se faz uma escola de samba, e aqui temos o companheiro Paulo
Sant’Ana, que vivenciou o que é a organização e competência e a capacidade
desses grupos, tirando do bolso durante um ano inteiro recursos para fazer um
desfile de uma hora, uma hora e meia, e ver sua escola passar. Não cobram nada.
Não é elitizante.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Há uma indústria muito
grande por trás do carnaval.
O SR. ALCEU COLLARES: Isso é outro aspecto da
questão. V. Exa. não vai querer acabar com a festa maior do povo brasileiro. Na
passarela de eventos populares faremos o 20 de setembro, nossa tradição, e,
como tem uma cobertura, 7 de setembro é uma hora muito boa, dá para fazer muita
coisa para quem tem sentimentos cívicos e patrióticos. Sete de setembro não é
feito só por uma camada, mas por todo o povo. Como tem cobertura, dá para fazer
também grandes espetáculos musicais, de graça. Em vez de fazer no Gigantinho e
cobrar um monte de entrada, dá para fazer de graça na passarela de eventos
populares, com cobertura de seis metros.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: A Prefeitura vai investir
ali?
O SR. ALCEU COLLARES: Vou repetir o que já repeti
mil e uma vezes: se nós tivéssemos 1 bilhão e 500 milhões de cruzados, não
aplicaríamos e faríamos, evidentemente, investimentos sociais nas vilas.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Sr. Prefeito, o Senhor não
justifica os erros dos outros administradores com os seus próprios erros. Eu
acho um erro a pessoa querer justificar alguma coisa em cima dos erros dos
outros. Se os outros erraram, não deve servir de exemplo para nós a ser
seguido, simplesmente um exemplo a ser evitado.
O SR. ALCEU COLLARES: Onde é que está meu erro?
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Eu coloquei uma pergunta
para S. Exa. e a resposta não foi dada.
O SR. ALCEU COLLARES: Eu já lhe respondi que vou
buscar na iniciativa privada. Agora, quando falo em socialismo, eu não tenho
socialista que faça investimento no capitalismo.
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Eu pergunto ao Senhor o
seguinte: o Senhor, representando um Partido socialista, poderia se dar ao luxo
de patrocinar um projeto altamente capitalista? Não acha que há uma incoerência
muito maior do que a construção da ferrovia Norte-Sul?
O SR. ALCEU COLLARES: Meu querido companheiro, V.
Exa. agora vai me dar a oportunidade de exercer o meu direito na forma
regimental de responder-lhe e fa-lo-ei com devida estima e não estou imitando
nenhum Governador e nenhum Prefeito das nossas capitais. Vou fazê-lo com devido
respeito. Vou repetir de novo: nós vamos tentar buscar na iniciativa privada.
Bom, iniciativa privada, companheiro, só tem no capitalismo. Se é iniciativa
privada, vai fazer investimento e vai querer o lucro.
O SR. MARCINHO: Claro, não tem dúvida
nenhuma.
O SR. ALCEU COLLARES: Chama-se capitalismo de
Estado e que busca o lucro também. Não é a iniciativa privada. Vamos conversar
direitinho e aí eu estou pronto para o debate. Capitalismo do Estado, onde pega
o dinheiro de toda a coletividade e coloca para a exploração visando lucro.
O SR. PAULO SANT’ANA: V. Exa. está enganado. Eu
estou a seu favor.
O SR. ALCEU COLLARES: Muito bem!
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Ai dele se estivesse
contra...
O SR. ALCEU COLLARES: Paulo, eu estou com tanta
dificuldade de explicar para o companheiro que imaginei que estava todo o mundo
contra.
Verª Jussara está preocupada que estou conversando com ele? V. Exa.
acha que eu devo interromper o diálogo com o Vereador?
A SRA. JUSSARA CONY: Não, acho que V. Exa. deve
explicar.
O SR. ALCEU COLLARES: Eu estou fazendo no
exercício do meu direito regimental.
Então, nobre Vereador, se nós não pegarmos a iniciativa privada, é evidente que
as pessoas vão botar o dinheiro fora. Para que lucro? O único capitalista que
uma vez fez uma experiência na Inglaterra, de fazer socialismo, quebrou a cara,
perdeu tudo o que tinha. São regimes diferentes um do outro. Então, o que eu
gostaria de dizer, também, é que nesta orla há 7 clubes abertos, com 30 campos
de futebol. Será que essa gente que V. Exa. diz que mora nas vilas não pode
chegar ali de ônibus para praticar o seu esporte?
O SR. MARCINHO MEDEIROS: Será que haveria
entrosamento social entre o hotel de cinco estrelas, de categoria
internacional, com um morador da Vila Nova Brasília, por exemplo?
O SR. ALCEU COLLARES: O nobre Arquiteto Debiagi
já falou em Copacabana, falou em Salvador, falou na Praia da Boa Viagem, falou
nas lagoas de Sergipe. Se V. Exa. passar por ali verá que, em cada 100 pessoas,
90, 80 são pobres que estão na praia. Não, basta que a população pobre de Porto
Alegre tenha acesso a essa orla que nós vamos criar para eles. E, aqui, V. Exa.
sabe que os ricos vão para o litoral, tem gente que vai até para Torres, e sei
que não é o caso de V. Exa.
O SR. PRESIDENTE: Gostaria, antes de chamar o
próximo orador, de que a Mesa falasse. Em primeiro lugar, gostaria de pedir aos
Srs. Vereadores que se cumprisse o Regimento Interno: cada um terá dez minutos,
após o que outros Vereadores se sentem prejudicados com a matéria. De tal
sorte, a Mesa não é perfeita em cumprir o Regimento Interno e se sente
obrigada, neste momento, a fazer esta advertência, de que tentará, pelo menos,
pautar dentro do Regimento Interno, porque recebeu reclamação de outras partes
que compõem este Plenário.
O SR. MARCINHO MEDEIROS
(Questão de Ordem): Eu fiz uma pergunta ao Arquiteto e ainda não veio a resposta.
O SR. PRESIDENTE: Eu posso dizer a V. Exa. o
seguinte: às partes é dado o direito de responder ou não. V. Exa. não vai fazer
eu tirar respostas a mando militar. Se o Dr. Debiagi ou o Dr. Alceu Collares
desejarem responder, têm ampla
liberdade.
O SR JORGE DEBIAGI: Desculpe, ilustre
Presidente, mas eu vou responder. A pergunta que foi redigida diz respeito ao
estádio do Internacional, que, segundo o Vereador, à proposta a este estudo não
está adequada a questão dos estacionamentos deste estádio.
Então, eu vou tentar responder rapidamente esta questão. Num estádio de
futebol tem um equipamento urbano que quando ocupado leva, como o Vereador
disse, até 100 mil pessoas. Supondo que nós tenhamos não 100 mil, mas 70 mil
pessoas, e supondo que estas pessoas se dirijam a este estádio de transporte
coletivo. Não existe nenhum problema em nenhum estádio, que isto é o ideal, que
as pessoas ao se dirigirem a um estádio destas dimensões que o façam em
transportes coletivo.
Mas a nossa realidade é um pouco diferente. As pessoas vão em
transporte individual. Supondo que se façam presentes neste estádio 80 mil
pessoas, nós teremos, então, 4 pessoas por carro, teríamos a ordem de 15 a 20
mil automóveis. Trocando por baixo a ocupação de cada veículo, 30 metros
quadrados, que é o que se ocupa em termos de circulação e estacionamento
propriamente dito, nós teremos 30 metros quadrados multiplicados por 20 mil
carros, nós teríamos a necessidade de ter uma área de 60 a 70 hectares de uma
área extremamente bem organizada para estacionamento de carro.
Teria, portanto, que ocupar parte considerável das áreas vizinhas, como
até a área do Parque Marinha do Brasil, para estacionamento.
Ora, isto se torna uma coisa inviável, num custo social, ao qual o
Senhor se referiu, que não se justifica, porque uma área com este valor não
pode ser destinada exclusivamente ao estacionamento de carros, que privilegia
uma determinada classe social de uma maneira de ocupação muito ilimitada. Essa
situação se cria em muitos poucos dias durante um ano. Evidentemente que esta
região, ao ser dotada de mais um sistema viário, vai permitir uma melhor
circulação, um melhor escoamento, uma melhor possibilidade de escoação daquela
região e vai permitir, também, um volume de estacionamento compatível com
aqueles espetáculos normais, de população, de uso médio. O que o Vereador está
fazendo para esta ocupação média, existem os estacionamentos necessários para
esta região, não só ocupando as vias públicas, como também aqueles destinados a
espaços específicos de estacionamento.
Era esse esclarecimento que eu gostaria de prestar com relação a esta
questão. Acho que é por aí.
Eu apenas queria fazer uma retificação: quando falei em 6 hectares, eu
queria dizer 60 hectares. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, a palavra com a
Verª Jussara Cony, pelo espaço de dez
minutos.
A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Presidente, Sr.
Prefeito, Senhores Secretários aqui presentes, Arquiteto Jorge Debiagi, a nossa
intervenção é muito menos nossa e muito mais das 32 entidades, junto com alguns
Vereadores, que são signatários do documento do qual nos incluímos, em função
de algumas premissas básicas de conhecimento público, inclusive do Sr.
Prefeito.
Primeira prática que temos de uma participação coletiva, no sentido de
irmos buscar, junto aos setores representativos e com a condição técnica e
política para nos dar respaldo e subsídios necessários à atuação na Câmara
Municipal de Porto Alegre. Também, pelo mérito que tiveram essas entidades, e
nós entendemos, assim, através desse seu trabalho, exatamente de oportunizar
isso que entendemos como amplamente democrático e dentro daquilo que entendemos
como deva ser uma gestão democrática e participativa. É de nós podermos, hoje,
como Vereadores, estar recebendo pela primeira vez a idéia. Acho que a
colocação da palavra idéia passa pelo respeito a uma prática democrática que
nos temos que forjar no Município de Porto Alegre entre Executivo, Legislativo
e a comunidade, que todos nós representamos. É nesse sentido que entendemos que
esse primeiro momento é decisivo não apenas em relação à idéia Praia do Guaíba,
mas como uma prática democrática que temos de garantir daqui para diante.
Assim, pedimos a oportunidade exatamente porque não temos, ainda, aprovado, Sr.
Prefeito, esse Projeto, que é de sua autoria e com o qual concordamos e acho
que rapidamente temos de discutir nesta Casa, que se refere à instalação dos
Conselhos Populares, no sentido de que as entidades possam, efetivamente,
participar e que esses Conselhos se instalem com a participação, já, da
comunidade. (Palmas.)
Assim, é que me permito - até porque sou signatária dessas premissas
colocadas, de uma prática política, que é de conhecimento público e também de
V. Exa. - ler, em nome dessas entidades, o documento que lhe foi entregue. No
nosso entender, esse Conselho vai trazer enormes colaborações no processo que
iniciamos e que pretendemos ver, a partir daqui, garantido, inclusive com as
cinco colocações feitas pelas entidades, o compromisso do Sr. Prefeito. (Lê.)
“Senhor Prefeito:
A cidade, como organismo dinâmico, está em constante processo de
crescimento e de transformação. Sua estrutura física, edificações e espaços
abertos, criados para viabilizar a existência da sociedade urbana, ao se
ampliar, ocupa espaços vazios ou substitui tecidos em processo de
degenerescência. Neste caminho, para facultar uma existência humana satisfatória,
são necessários o respeito às características do sítio natural preexistente, ao
patrimônio cultural e à vontade da população. Nestas últimas décadas, durante o
período de governos autoritários, inúmeras intervenções se processaram na malha
urbana de Porto Alegre sem a menor consideração tanto ao patrimônio ambiental
(natural e cultural) quanto aos anseios populares. Construíram-se viadutos,
rasgaram-se corredores de transporte, consumiram-se espaços verdes,
destruíram-se espaços culturais tradicionais, comprometeram-se paisagens
naturais insubstituíveis. O saldo foi a transformação da cidade razoavelmente
apropriada às necessidades humanas em uma metrópole desarticulada, confusa,
desumana e comprometida. Hoje, quando voltamos a escolher pelas urnas nossos
governantes, não podemos admitir que esta situação se mantenha. Faz parte
integrante do processo democrático a participação dos cidadãos nas decisões que
dizem respeito às modificações do espaço em que vivem.
A Praia de Belas, compreendendo a faixa marginal do Guaíba entre a
Ponta da Cadeia e a Ponta do Melo, por suas características, por sua
localização, por ser bem de uso comum do povo e propriedade do poder público,
pela sua proximidade ao centro urbano e às áreas mais densamente ocupadas da cidade
e pelos usos que já contém, ainda que precariamente instalados, é um espaço da
cidade de Porto Alegre que somente poderá ter sua ocupação definida através de
um amplo debate de todos os setores da sociedade civil porto-alegrense.
Para tanto faz-se mister que a administração municipal exerça sua
atribuição inalienável de gestão do território municipal e, através de seus
órgãos, para este fim estruturados (Secretaria do Planejamento Municipal e
Secretaria Municipal do Meio Ambiente), proceda às tratativas para a
determinação das diretrizes da ocupação consubstanciadas no levantamento dos
dados e informações sobre a área (estudo do meio, clima, hidrologia, análise
dos usos), no estabelecimento do processo de envolvimento da coletividade na
discussão, na confecção do programa para a urbanização e na definição dos
projetos que se fizerem necessários.
No entanto não é isto que se fez. Decidindo ocupar a Praia de Belas
Vossa Excelência, desconhecendo a plenitude de usos já existentes no local,
esquecendo que à população cabe decidir quanto aos destinos de seu espaço
urbano e deixando de lado os órgãos da própria administração, aos quais cabe o
disciplinamento da ocupação do solo no município, contratou escritório
particular de arquitetura a quem encomendou a elaboração de estudo de
viabilidade para a urbanização da área. Ora, tal medida não apenas alija das
decisões a sociedade civil de Porto Alegre, como exclui, pelo próprio teor do
contrato assinado com o arquiteto, a Secretaria do Planejamento Municipal das
tratativas para organização daquele espaço da cidade. Tanto mais grave torna-se
este procedimento quanto mais importante e extenso é o espaço da cidade a ser
por ele apropriado.
O estudo da viabilidade elaborado pelo escritório contratado, constando
de planta, perspectivas e estimativas de áreas do projeto, vem sendo
apresentado para diferentes entidades e associações. Não se abre porém, por
esta via, a discussão do programa e da proposta. Pretende Vossa Excelência
apenas obter a coonestação de Vossa decisão pelas pessoas que assistem à
apresentação. Prova disto é o fato que as vozes discordantes do empreendimento
projetado são consideradas inimigos rancorosos. Não é por esta via que uma
administração que se pretende democrática conduz os seus passos. Principalmente
quando entre os planos e objetivos da proposta inclui-se a alienação de bens
para a iniciativa privada e a utilização de parcelas de bens de uso do povo
(parques) para edificações destinadas ao uso particular.
A área da Praia de Belas é resultante de aterro hidráulico efetuado
sobre o Guaíba sendo seus terrenos, de domínio público, distribuídos
proporcionalmente entre Prefeitura, Estado e DNOS e bens de uso comum do povo
conforme Convênio de 28/04/73 e respectivos termos aditivos. Suas
características são especiais pela sua localização: margens de corpo d’água e
proximidade da zona central, e por sua destinação: áreas de lazer e recreação e
zonas de expansão das atividades administrativas e do centro urbano. Não
podemos pois admitir sua destinação a empreendimento que, além de alienar áreas
de uso do povo à iniciativa privada, dirige-se apenas a usuários pertencentes à
categoria econômica mais privilegiada. Também não é aceitável que, sem dar
importância à necessidade da implantação de uma efetiva política habitacional,
seja utilizado, para vender a imagem da proposta, o argumento de que parte do
resultado financeiro será destinado para fins sociais.
Por todos estes motivos as entidades que subscrevem o presente
documento exigem:
1º) que seja assegurada a ampla participação popular no debate e
decisão sobre o programa a ser adotado para a área de aterros na Praia de
Belas, entre a Ponta da Cadeia e a Ponta do Melo, ou seja, que a população
possa decidir o que deseja implantar na área;
2º) que as alternativas de viabilidade urbanísticas, o estudo dos
impactos urbanos decorrentes da implantação do programa a ser adotado e a
viabilidade econômica, sejam propostos pelas equipes técnicas da Secretaria do
Planejamento Municipal que, se necessário, podem ser ampliadas ou
reestruturadas para tal e que se compõem de técnicos que são funcionários a
serviço da coletividade porto-alegrense;
3º) que qualquer proposta de alienação de bens patrimoniais de
propriedade do município na área, seja acompanhada pelos projetos detalhados em
todos os níveis, das obras, equipamentos e infra-estrutura onde serão aplicados
os recursos auferidos com alienação;
4º) que seja elaborada perícia técnica jurídica sobre a situação legal
das áreas resultantes dos aterros realizados pelos DNOS a partir do Convênio
celebrado entre este, o governo do Estado e a Prefeitura Municipal em 1973;
5º) que o Executivo Municipal assuma o compromisso público de não
solicitar regime de emergência na votação do projeto relativo à Praia de Belas
ao enviá-lo à Câmara Municipal, para possibilitar, antes de sua discussão em
Plenário, o amplo debate pela população da Cidade.
Porto Alegre, 25 de agosto de 1987.”
Ao terminar de fazer a leitura deste documento, nada mais estamos, Sr.
Prefeito, Sr. Arquiteto Jorge Debiagi, Srs. Secretários aqui presentes, Sr.
Presidente da Câmara, nada mais estamos fazendo do que garantir uma ampla
participação popular nas decisões sobre a cidade de Porto Alegre. Decisões que
serão oportunizadas através da ampla participação, os desejos da maioria do
povo da cidade de Porto Alegre. Muito obrigada.
O SR. ALCEU COLLARES: Acho que a Vereadora coloca
o que já estamos fazendo há mais de 60 dias, que é um debate com a população de
Porto Alegre. Que pela primeira vez acontece: é um Governo que vai ao povo,
discute, e sofre as críticas populares, tenta corrigir.
Vou esperar que a Vereadora termine o diálogo com sua secretária para
poder usufruir e ter a honra de sua audiência, que me é extremamente
importante.
Vamos conversar para dizer que estamos, afora algumas colocações do
documento, que a gente sabe, como sou macaco velho, a gente sabe muito bem o
que tem no documento. Se me perguntarem o que tem no documento, direi: é a
intenção de participação, e mais, é sincero. Agora, algumas colocações críticas,
acho que é uma antecipação que recebemos, não tem problema.
E como a Vereadora falou naquele Conselho Popular, que foi um debate
que a nossa Administração, aliás, a nossa Administração, os Partidos que estão
aqui, principalmente os Partidos populares, não podem dizer que não fazemos
debates com as vilas. Aquele Conselho Popular, o Projeto está aqui dentro,
resultou de um debate onde eu compareci, como Prefeito, vinte e cinco vezes.
Fizemos dois seminários, estava a UAMPA, a FRACAB, estava todo o mundo, PT,
PCB, PC do B...
A SR. JUSSARA CONY: Nós queremos saber por que
está demorando tanto para ser aprovado...
O SR. ALCEU COLLARES: Nós tínhamos que descobrir
quem era o relator da matéria.
O Sr. Caio Lustosa: É o próprio PDT...
O SR. ALCEU COLLARES: Quem é o relator da
matéria? Gostaria de saber quem é o relator da matéria.
(Apartes paralelos.)
O SR. ALCEU COLLARES: Se não fosse importante, eu
não ocuparia o tempo de V. Exas. Agora, o danado nisso, o raivoso nisso tudo é
que esse Conselho Popular é uma proposta mais evoluída do que esses Partidos
deles. Muito mais avançada. Eu sei que tem muitos que estão combatendo esse
Conselho e que já disseram em um local aí, eu tenho registrado, “partidos
populares, não passa a venda dos terrenos para fazer creche”. Vai ter um debate
amanhã, eu tenho gente minha porque eu não sou bobo.
Agora, uma coisa é falar aqui, outra é falar lá e outra é agir na hora
do voto. Esses Conselhos Populares, eu esperava que o PC, PC do B, PSB
tivesse... O PMDB é claro, na época do MDB, como lutamos na resistência
democrática para restabelecer o direito de participação do povo e o primeiro
cambalacho que fizeram foi o de não dar eleições diretas!...
A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Prefeito, V. Exa. está
cometendo conosco uma injustiça. Nós nos comprometemos, inclusive com a direção
da UVB e V. Exa. tem que colocar aqui, União dos Vereadores do Brasil, de levar
para o debate, inclusive no processo da Assembléia Nacional Constituinte, os
seus Conselhos Populares. V. Exa. aplaudiu como aplaudiu hoje, desta Mesa. E,
hoje, aqui, nós colocamos, talvez, se já tivéssemos os Conselhos Populares que
V. Exa. traz - e nós concordamos e queremos um amplo debate com a população -,
talvez já pudéssemos estar num processo mais avançado. Não é o nosso Partido,
não são Partidos pequenos, mas populares e democráticos, desta Casa que estão
inviabilizando. Nós queremos que venha inclusive com a maior brevidade possível
a esta Casa um projeto que entendemos democrático e que oportuniza a
participação popular.
O SR. ALCEU COLLARES: Então, os Conselhos
Populares, que eu considero matéria superior a este Projeto Praia do Guaíba, em
termos da participação do povo, está aí a prova provada do nosso Partido com o
projeto aqui dentro da Câmara. Espero que este seja aprovado e que os terrenos
também, para fazer a venda para as creches. Se não quiserem me dar os dez, que
é 4% de todos os terrenos da Prefeitura, que me dêem, 8, 5, pois não tenho
dinheiro para construir creches. Nós queremos construí-las. Eu não vi nenhum discurso
daqueles Partidos dos meus amigos, defendendo a venda dos terrenos. Fico
alarmado com isto. Era só isto que eu diria à nossa Verª Jussara, porque quando
o Ver. Caio foi lá eu tirei a passarela deles e simplesmente disse que é isto
que vocês estão colocando e o que já estamos fazendo. Eu não sei como eles não
descobriram isto. Faz 60 dias que estamos debatendo isto.
O Sr. Caio Lustosa: Mas a cláusula 4, esta
continua de pé.
O SR. ALCEU COLLARES: V. Exa. empacou na 4. Ainda
bem que não empacou de quatro. V. Exa. não é contra o Projeto. É contra a
cláusula?
O Sr. Caio Lustosa: Claro, mas é a cláusula que
vai comprometer o patrimônio público.
O SR. ALCEU COLLARES: Então, a idéia é boa? Está
ótimo. Então, não tem mais discussão. Está encerrado.
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, o Ver. Hermes
Dutra. V. Exa. tem dez minutos.
O SR. HERMES DUTRA: Eu serei, Sr. Prefeito,
muito breve. Tenho uma reclamação, um comentário, um elogio e uma pergunta a
fazer. A reclamação é que tentei encontrar desde a sua chegada aqui uma cópia
do Projeto que o Senhor trouxe, para que pudesse fazer algumas perguntas e não
consegui até este momento. O comentário que eu queria falar é que às vezes eu
me sinto até mal com alguns desrespeitos que fazem à figura do Prefeito da
Cidade. Eu queria dizer que eu estou pouco preocupado com o Alceu Collares,
agora, eu estou preocupado é com o Prefeito da Cidade, que é uma autoridade e,
como tal, deve ser respeitada.
A outra questão que eu queria fazer é que não ficou definitivamente
esclarecida a questão da propriedade das áreas. Embora o Ver. Antonio Hohlfeldt
tivesse feito a pergunta e houvesse uma resposta, pelo menos os jornais
iniciaram uma polêmica sobre se estas áreas previstas se, inicialmente onde
serão construídas, que teoricamente seriam cedidas à iniciativa privada, seriam
do Município ou não seriam. Eu tenho para mim que isto é uma questão básica,
porque, vamos admitir que a Câmara aprove, por exemplo, e se não for do
Município, inviabiliza. Para nós estudarmos o Projeto é necessário que haja um
esclarecimento definitivo sobre esta questão, que pode, até, ter sido dada, mas
eu queria que V. Exa. explicasse sobre isto.
O Sr. Paulo Sant’Ana: O esclarecimento já foi
dado, posteriormente eu transmito ao Ver. Hermes Dutra.
O SR. HERMES DUTRA: O Ver. Paulo Sant’Ana não
ouviu toda a minha pergunta. Eu disse que o esclarecimento foi feito, mas a mim
não me pareceu suficiente. Não se trata da relocalização de áreas, eu falei
quanto à propriedade das áreas. Outra questão é quanto à idéia que o Senhor
traz à Câmara que, como idéia, tem que ser aceita, pode-se rejeitar o Projeto,
mas a idéia é válida. O Senhor imagina que, até o fim do ano, se conseguiria
estar com isto detalhado? No caso de aprovação, iniciar-se isto? Porque a
preocupação que eu tenho é que V. Exa. se esforce, e até a Câmara aprove e
fique inviabilizado depois por falta de recursos, por falta de interessados, e
aí teríamos um verdadeiro elefante branco.
O SR. ALCEU COLLARES: Muito bem, com relação ao
problema da propriedade, o Paulo Sant’Ana tem razão; eu tentei, várias vezes, e
talvez eu não tenha tido a competência para ser claro, isso, às vezes, falta à
gente, e mais, não é hora de discutir a propriedade. Ver. Hermes, nós não temos
nada que discutir a propriedade; neste momento, não. Nós estamos oferecendo,
aqui, um regime urbanístico, e o mesmo respeita ou corresponde ao peculiar
interesse do Município. Ele tem competência para estabelecer para uma área, que
seja do Município, do Estado ou da União ou particular, um regime urbanístico.
É o que está aqui, neste Projeto. Depois, na hora em que formos detalhar
tecnicamente o Projeto, então vamos dizer esta área, aquela área, etc., etc.,
aí é que vamos ter que provar que é nossa, ou, se houver problemas jurídicos,
negociar. Mas quero repetir, e que fique bem claro - o brilhante advogado
Werner Becker nos ajudaria nisso - nós não estamos discutindo propriedade aqui,
não é hora. O que está aqui é o regime urbanístico para uma área, que pode
atingir a propriedade do Município, do Estado, da União, e a propriedade
privada.
O SR. CAIO LUSTOSA: A sagrada propriedade
privada!
O SR. ALCEU COLLARES: Esse é um problema que se
V. Exa. puder resolver, nós ficaríamos felizes. É louvável, e é possível que eu
não tenha chegado ao grau de V. Exa., por incompetência. Era isso.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Getúlio Brizolla.
O SR. GETÚLIO BRIZOLLA: Gostaria de felicitar o
Prefeito, Alceu de Deus Collares, que teve esta coragem que outros Prefeitos
não tiveram, de chegar e colocar aquilo que é verdade. Alceu, teu trabalho é
muito grande e, nestes anos de luta, tu já demonstraste isto. É preciso que
seja um homem de grande firmeza, para deixar seu gabinete e vir aqui colocar o
seu pensamento e as suas intenções. Sou grato a ti, Alceu, por este grande
esclarecimento. Tu vieste, como trabalhador, provar o que tu realmente és.
Obrigado e um abraço. (Palmas.)
O SR. FLÁVIO COULON: Em primeiro lugar, devo
dizer que fiquei bastante honrado quando, ao adentrar neste recinto, vi, aqui,
praticamente todo o secretariado do Prefeito. Eu acho que isto é uma
demonstração de apreço para com esta Casa. Eu assim a entendi e assim a elogio.
Como eles estavam todos aqui, eu fiquei preocupado com a máquina administrativa
do Município. Mas devo reconhecer, também, que, depois que o Sr. Prefeito disse
que nós estamos debatendo o que não existe, o seu secretariado foi tratando de
sair. Elogio, mais uma vez, o secretariado, porque, realmente, quando viram que
estavam assistindo ao debate de uma coisa que não existe, eles trataram de se
retirar e trabalhar pelo Município. Mas, aproveitando a ausência do Sr.
Prefeito, vou me dirigir ao Arquiteto Debiagi. Em primeiro lugar, quero
resgatar uma verdade. Essa idéia de ocupação destas áreas não é uma idéia nova.
Ela existe, há muitos anos, dentro da Secretaria Municipal do Planejamento e
vinha sendo desenvolvida; então, ninguém é dono da idéia. Então, eu lembraria
que uma idéia semelhante existe no papel, desenhada, projetada, que é a
ocupação dos terrenos da Maguefa, num projeto do nosso colega e amigo Carlos
Maximiano Fayete e sua equipe. A primeira, depois da ressalva, pergunta que
faria ao Arquiteto Debiagi é a seguinte: também me ensinou o grande Arquiteto
Fayete que para se fazer um estudo desses se parte de um programa de
necessidades. Perguntaria quem é que forneceu a ele o programa de necessidade,
ou se o programa de necessidades foi ditado pelo custo da obra?
O SR. JORGE DEBIAGI: Sabe que faz parte da nossa
habilitação profissional estabelecer, juntamente com os nossos clientes, o
programa de necessidade; no caso das questões relacionadas com o urbano, ele só
se viabiliza se for executado, isto é, viável a execução. A resposta fica
resumida no seguinte: o programa de necessidades tem duas faixas: uma, a
pública, ou seja, aquilo que são as necessidades públicas para a área, que está
no relato inicial do nosso trabalho; o que tem nessa idéia, e que não
corresponde ao que o Vereador falou, que existem outros projetos, eu conheço
todos eles...
O SR. FLÁVIO COULON: Outras idéias.
O SR. JORGE DEBIAGI: O Senhor falou que tem
projetos desenhados. Mas, para esta área, especificamente, a singularidade
desta idéia é a sua possibilidade em ser viabilizada.
O SR. FLÁVIO COULON: Então, V. Exa. respondeu
que o programa de necessidade foi feito em função da necessidade de pagar.
O SR. JORGE DEBIAGI: Não, aí tem outras coisas,
ilustre Vereador, que são decorrentes de fatores econômicos muito importantes.
O Senhor me desculpe, mas não seria possível viabilizar esta área, primeiro, pelos
recursos do Município, que não possui. Para viabilizar todas estas obras, que
totalizam um bilhão e meio de cruzados, seria necessário a implantação, no caso
desta idéia, de algumas obras que viessem possibilitar isso; o Senhor sabe, o
Senhor está no mercado imobiliário, o Senhor é proprietário, sabe disso. O que
se fez? Quais as necessidades que a Cidade tem? A Cidade necessita de um hotel
do nível que falamos, um centro de convenções, uma passarela de eventos como
falamos e ainda algumas áreas destinadas a estabelecimentos comerciais que...
O SR. FLÁVIO COULON: V. Exa. me colocou mal
perante minha Bancada, porque houve uma insinuação de que sou proprietário,
etc. Minha Bancada está atenta, já estou sendo taxado de latifundiário dentro
da Cidade, grande proprietário. V. Exa. me deixou mal, gostaria que
especificasse o que eu tenho.
O SR. DEBIAGI: V. Exa. como todos nós
aqui, é proprietário de uma coisa ou de outra. Ser proprietário é uma
característica da nossa sociedade.
O SR. FLÁVIO COULON: Gostaria que deixasse bem
claro que tenho dois apartamentos e um terreno em Porto Alegre. Ficaria grato.
O SR. DEBIAGI: Não sei os seus bens.
O SR. FLÁVIO COULON: Da maneira como colocou
parece que sabe.
O SR. DEBIAGI: Foi colocado agora, eu não
tinha intenção de entrar nesse detalhe.
O SR. FLÁVIO COULON: Está respondido. Outra
coisa que eu gostaria de saber: a Secretaria Municipal do Planejamento terá
participação depois, antes, quando ela irá participar ou ela não irá participar
desse estudo?
O SR. DEBIAGI: Ela está participando.
Temos contato permanente com o Secretário do Planejamento.
O SR. FLÁVIO COULON: O teatro está incluído nesse estudo?
O SR. DEBIAGI: Não faz parte do estudo.
O SR. FLÁVIO COULON: Uma questão, pois tenho
ouvido alguns adjetivos que do ponto de vista profissional, aliás, faço
justiça, não foram esses adjetivos citados pelo Senhor, Arquiteto Debiagi.
Perguntaria o seguinte: se tivesse havido um concurso internacional para
desenvolver essa idéia, seria possível, internacional, onde participassem
arquitetos de todo o mundo, seria possível chegar-se a uma idéia melhor do que
esta?
O SR. JORGE DEBIAGI: Eu vou lhe responder da
seguinte maneira.
O SR. ALCEU COLLARES: Nunca!
O SR. JORGE DEBIAGI: Mas vou aproveitar a
oportunidade para colocar uma posição com relação a esses eventos
internacionais, são os concursos internacionais de arquitetura, nacionais,
regionais, vamos supor...
O SR. FLÁVIO COULON: É uma série de quatro
perguntas. Era o internacional, o nacional, o regional e o local. V. Exa.
admite que um concurso poderia surgir uma idéia melhor do que esta?
O SR. JORGE DEBIAGI: V. Exa. sabe que dizer que
uma idéia é melhor ou pior numa proposição de caráter urbano, é uma questão
extremamente relativa. Existem hoje teorias extremamente conflitantes. Existe
hoje um movimento chamado pós-moderno, que não está bem definido ainda e que
alguns arquitetos da nossa urbe adotaram, que é uma forma de conduzir, que é
uma espécie de volta à recreação, de alguns aspectos relacionados ao historicismo.
É uma forma de se colocar. Existem ainda outras teorias relacionadas ao
movimento moderno, segundo alguns entendidos e alguns teóricos, que nós nos
encontramos em pleno movimento moderno, ainda não ultrapassamos o umbral deste
movimento.
Então, este movimento chamado pós-moderno é um movimento contestatório,
se caracteriza como um movimento contestatório. Muito bem, então daí vêm
algumas críticas e decorrem daí algumas críticas que se confrontam muitas
vezes.
Agora vamos falar sobre os concursos. Os concursos têm uma
característica muito interessante: numa situação de oferta de mão-de-obra como
existe no Brasil hoje por parte dos arquitetos, muito maior que a demanda, é
natural que aqueles arquitetos que não têm acesso ao mercado, não se
estabeleceram no mercado, muito natural, acho perfeitamente natural que haja a
tendência de as pessoas encurtarem caminho através daquilo que eles próprios
pensam, que são pessoas que são tão capazes de propor idéias melhores do que as
dos outros. Agora, o melhor ou pior num caso desses, imaginem num concurso
deste tipo, leva, em primeiro lugar, algum tempo muito grande de ser realizado,
envolve assim 200, 300, 400 ou 500 profissionais, em muitas ocasiões. Agora,
realmente, o resultado quem julga é um grupo de 4 ou 5 profissionais, é da
cabeça deles que sai a idéia, porque eles, segundo a sua condição, os seus
princípios, é que vão escolher o melhor projeto. Então, o concurso público tem
um aspecto, com relação ao processo democrático, meio complicado, porque ele
cai sempre num número minoritário de pessoas para escolher, e de acordo com os
princípios e ideologias que esse grupo tem, que será escolhido o trabalho. Na
verdade, quem julga, numa seleção de 200 trabalhos, é que vai julgar qual o
melhor ou pior. Então, a resposta, se tem melhor ou pior, não sou eu que vou
julgar. Quem julga, no caso presente, nessa sistemática que foi adotada, porque
partiu de um arquiteto a idéia de viabilizar, evidentemente essa idéia está
consubstanciada num regime urbanístico, numa proposta de uma solução até
formal, é uma idéia que tem uma forma, ela, para ser julgada se é bom ou não,
só tem um juiz para isto: é o povo, é a população. E, no caso presente, a
Câmara de Vereadores, que representa o povo. É o que posso responder com
relação à sua pergunta.
O SR. FLÁVIO COULON: V. Exa., como sempre, e é
uma de suas características, respondeu inteligentemente à pergunta. Mas só
gostaria de colocar a razão da pergunta. V. Exa. entendeu bastante bem e não
respondeu diretamente, é justamente no sentido de resgatar que as entidades,
quando elas falam em concurso, não falam em concurso por inveja, por ciúme,
etc. e tal, como se tem ouvido. Elas exercem um direito, como entidade, de
defender o que elas acham que poderia conduzir, eventualmente, a uma idéia melhor
para a Cidade. É essa a razão por que eu coloquei a pergunta, inclusive para
resgatar a posição certa ou errada das entidades que têm sido atacadas
violentamente - não por V. Exa. - mas pelo Executivo Municipal. Finalmente, eu
gostaria de colocar o seguinte: eu não estou entendendo por que vai se mandar
para a Câmara aprovar uma viabilidade. Eu acho que isto é uma questão do
Executivo aprovar. Agora, o que me parece que vem para cá é uma mudança de
regime urbanístico, não vamos mascarar as coisas.
O SR. ALCEU COLLARES: Nós dissemos isso, nós
dissemos que o que está aqui é o regime urbanístico, ninguém está mascarando
nada. E quando nós falamos naquelas invejas, é porque tem um documento de um
determinado órgão que não dignifica os profissionais todos da área. É um
documento com uma baixaria muito grande.
O SR. FLÁVIO COULON: Isto na sua concepção
pessoal.
O SR. ALCEU COLLARES: V. Exa. sabe qual é o
documento?
O SR. FLÁVIO COULON: Eu não sei, mas em partindo
de entidades de classe, eu tenho que ter respeito por este documento,
eventualmente eu posso até não endossá-lo.
O SR. ALCEU COLLARES: Não é este documento sobre
o qual V. Exa. tem conhecimento, é outro.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Paulo
Sant’Ana.
O SR. PAULO SANT’ANA: Inicialmente, eu gostaria
de dizer que eu já estou munido de uma certeza, não só de que o Projeto é bom,
como é o melhor. E a minha certeza tem tanta saúde que eu acredito que ela,
durante o debate público que se instalou, venha a se tornar em convicção. Isto
deve causar espanto ao Sr. Prefeito Municipal, porque em declaração prestada à
“Zero Hora” há dias, o Sr. Prefeito disse que este Vereador tem-se
caracterizado como um parlamentar de oposição.
Esta opinião do Sr. Prefeito é equivocada e eu não sei se ele se
equivocou por si próprio ou se foi mal-assessorado, porque eu realmente
tenho-me mostrado em oposição a 10% dos projetos que S. Exa. envia a esta Casa.
Os outros 90% eu concordo.
Se V. Exa. não foi assessorado nesta opinião, V. Exa. talvez tenha se
equivocado porque sobre um aspecto eu tenho uma vantagem sobre V. Exa. V. Exa.,
por força de 20 anos de ditadura, não teve oportunidade, nunca, de ser um
parlamentar de situação. V. Exa. sempre foi um parlamentar de oposição. E eu,
como troco muito de Partido, já fui parlamentar de situação e de oposição e
tenha certeza que se V. Exa. fosse um parlamentar alguma vez, de situação como
hoje eu sou, eu pertenço ao Partido de V. Exa., pelo espírito inquieto de V.
Exa., especulativo, até meio rebelde, que caracterizou sua atuação parlamentar,
V. Exa. muitas vezes votaria contra o projeto do Executivo do seu Partido.
Nesta eu estou com V. Exa., Prefeito, e vou apresentar os motivos: tem que se
dar um aproveitamento para esta área. Esta área vem sendo invadida e até alguns
que têm direito de ocupação sobre alguns pedaços dela vêm alastrando
preocupantemente seus limites. Isso é um abuso inominável. Eu não quero citar o
nome das entidades porque, em certos aspectos, seria eu até meio suspeito. Mas
tem gente alargando seus limites aqui! Além disso, se não houver um anunciado e
rápido aproveitamento desta área, estes abusos se tornarão ainda maiores,
incontroláveis, podendo se cristalizar no futuro como consagrados e
irremovíveis.
Ouvi falar aqui de que o custo social da infra-estrutura poderá ser
demasiadamente grande para a população de Porto Alegre. Mas, pelo amor de Deus,
sempre que se fala em custo tem que se falar em benefício. Qual é o custo
social da infra-estrutura deste Projeto? É água? É esgoto? O que mais? E os
benefícios que já foram arrolados suficientemente aqui à sociedade, à Cidade,
ao seu povo, não valem a pena? Eu achava muito melhor que indagássemos o
problema de custo social quando aprovamos o Plano Diretor. Quando aumentamos
teoricamente a capacidade de unidade de habitação em Porto Alegre para 10,
multiplicamos por 10, e eu não sei se a Cidade vai conseguir agüentar em
matéria de esgoto, em matéria de água, caso sejam construídas as habitações que
o novo Plano Diretor permite, se essa Cidade vai suportar; naquele momento é
que deveríamos ter falado em custo social e em capacidade de infra-estrutura.
Não neste momento, em que a Cidade é dotada de elementos ecológicos,
paisagísticos, de lazer e de cultura, cujo custo será insignificante em relação
ao benefício. A acusação de elitismo da obra é risível. Qualquer logradouro
público que seja construído na Cidade só traz pobres, só atrai pobre e classe
média. Os ricos não saem mais às ruas. Eles freqüentam os clubes e suas
próprias casas e a lugar nenhum mais vão. Os ricos não saem mais de suas casas
com medo de serem assaltados. Vai-se ao Parque Marinha do Brasil, pergunto: há
algum rico lá? Só vi um, e disse-lhe: “o que estás fazendo aí, patrão?” Era o
Jaime Sirotsky. Estava lá pedalando com os engraxates. O Parque da Marinha está
lá cheio de pobres, indigentes e classe média. Então, essa preocupação é fraca,
parece que vamos construir um clube. Não é clube, não precisará de carteira,
não precisa comprovar propriedades e dinheiro, não. Aquilo vai estar
inteiramente à mercê e à disposição da população. A acusação de elitismo
parece-me absurda. Mas, construir uma marina, será que o pescador vai por seu
barco lá? Mas, caíque em marina? Quem tem caíque vai por perto de sua casa,
pois mora na beira do rio. Além do que, se estivéssemos tratando de um projeto
no Morro da Polícia, construiríamos lá um teleférico; seria um problema de
acidente geográfico. Lá seria construída uma plataforma de asa delta, como é no
Rio. Evidente. Agora, quem acha que isso é elitista está mal-informado.
Atualmente, em Porto Alegre, existem inúmeras fábricas de barcos, como no
Brasil inteiro, que estão fabricando barcos aos preços de 50, 60, 70 e 100 mil
cruzados, preços infinitamente menores do que custa um automóvel. E um
automóvel não é elitista.
O Prefeito me tirou da boca uma anotação que tinha feito, quem acusa a
marina de elitista é obrigado a acusar a passarela de eventos que está no
Projeto de popularista.
Também, quanto ao mérito do Projeto, sei que pode haver projetos
melhores, evidentemente que os há, mas nenhum deles tem o pioneirismo e a
genialidade da idéia de fazer com que a iniciativa privada assuma o custeio.
Todos os projetos que se fizerem vão tirar esta idéia dele, esta idéia nuclear,
de que a iniciativa privada o custeie, não vai ter que prover recursos do
Município. E nós todos sabemos que o Município não tem recursos para nada, esta
é a verdade.
Então, a idéia é brilhante, é excelente, e acredito que ela vai ser
aprovada, Sr. Prefeito.
Teria apenas duas restrições: a potabilidade do rio Guaíba, como o
Prefeito falou aqui, não existe mais rio potável, quase não existe mais em
parte nenhuma. Sobre a balneabilidade do rio, foi uma fórmula de se dourar a
pílula deste Projeto, pois não acredito que a nossa sociedade seja capaz de
tornar balneável o rio Guaíba, mas isto não tira o mérito e a substância do
Projeto.
E a segunda restrição que tenho, é que acusaram que este Projeto é de
um arquiteto só, e me parece que foi o Sr. Prefeito que disse, na defesa da
exclusividade do arquiteto, que nos honra com a sua participação, que diz que
Brasília foi de um arquiteto só, Niemayer,
e a restrição que faço, Sr. Prefeito, é que o argumento de V. Exa.
contra Niemayer, no meu entender estava errado, foi um arquiteto só, mas que
construiu muito mal, porque se trata de uma cidade sem esquinas, sem pontos de
encontros e pelo seu planejamento mandou os pobres irem morar nas favelas da
cidade.
O SR. ALCEU COLLARES: É sempre um prazer muito
grande um debate com o companheiro Sant’Ana. Eu quero reformular a afirmação
que fiz, acho que não tenho constrangimento nenhum para fazer. Eu sou um homem
público, eu posso errar. A burrice é não reconhecer que tenha praticado um
exagero. Houve um exagero na afirmação, mas, aquela minha afirmação, Ver.
Sant’Ana, se prende ao Projeto da venda de terrenos, queremos vender para
construir creches. Quando o meu nobre companheiro e meu querido gremista
compara aquilo com a Maguefa, dá uma bofetada na cara do Prefeito que não é
brincadeira. Fiquei meio tonto.
O Sr. Paulo Sant’Ana: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) É porque a última venda de terrenos que o Prefeito
Municipal fez foi a da Maguefa, foi desastrosa, por isso é que comparei. Não
queria dizer que V. Exa. tivesse qualquer interesse em vender os terrenos, como
a Maguefa teve em comprá-los e até agora não ficou comprovado se havia
interesse escuso do Poder Municipal em vendê-los. Era apenas dizendo da
desastrada venda que outrora fizemos. Eu estou aqui há dezesseis anos, eu votei
aquele Projeto, porque não sabia que ia resultar nisso. Então, V. Exa. entende
que eu tenho que ter receio.
O SR. ALCEU COLLARES: Só que o Prefeito era outro
e não era do Partido de V. Exa. E nem lhe era conhecido e íntimo como eu o sou.
(O Plenário responde que sim.)
O SR. ALCEU COLLARES: O Partido era outro, o
Prefeito era outro, os Secretários eram outros e alguns deles estão aqui com
assento nesta Casa. Tem uma diferença muito grande. Outro é quando V. Exa. joga
para cima que vamos aumentar dez vezes o Plano Diretor. Não é isso, nobre
Vereador. Não aumentou dez vezes.
O Sr. Paulo Sant’Ana: Eu disse teoricamente dez
vezes.
O SR. ALCEU COLLARES: Que aumentou, aumentou. Não
se pode afirmar se é teórico ou pragmático. Mas eu não quero mais discutir
contigo, porque senão, daqui a pouco, eu perco o teu voto. Estou de bem contigo
e com o mundo. Só estou de mal com alguns, mas isto é livre, porque eles vão
ser esmagados com a força da idéia. As maiorias podem esmagar ideologicamente.
Mas eu tenho uma dificuldade para esta ala entender. Esta ala aqui é de morte.
É uma ala braba. Ela, com relação aos assentos, está à esquerda, mas na verdade
está à direita com relação a mim. Então, Sant’Ana, estamos de braços abertos,
vamos fazer prevalecer esta idéia. Porto Alegre vai se lembrar de nós e
condenar aqueles que são contra. Bem feito para eles.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Artur Zanella, pela
ordem.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Prefeito, ouvi
atentamente, como sempre, e evidentemente tem assuntos que tratam desse projeto
a “latere”, mas alguns assuntos foram tratados, mas para não deixar passar em
julgado, é com relação à questão da estação de tratamento de esgotos do Projeto
Rio Guaíba. Eu estou um pouco desconfiado disto, porque vejo nos jornais que o
Governo do Estado já assinou contratos para obras daquela estação, e tenho
procurado informações sobre ele e, no dia 17 de abril, esteve aqui o Dr. Baggio
e eu perguntava a ele se o projeto daquela estação viria para a Câmara, viria
para cá. O Dr. Baggio, na época, disse que não sabia. Eu fiz um Pedido de
Informações sobre isto com oito itens, mas me responderam sete itens. No 8º
item, onde eu perguntava se a Câmara Municipal receberia algum projeto de lei
sobre a relocalização da estação de tratamento, foi o único que não veio a
resposta, a não ser uma vaga referência. Então, sem discutir hoje, num outro
momento gostaria que V. Exa. lembrasse que estas mudanças de estação de
tratamento, estes contratos que estão sendo assinados, estão sendo assinados
sob uma premissa que ainda não ocorreu, provavelmente ela ocorrerá, que é a
transferência legal do local que não é a Ilha das Flores. Estão assinando
contratos, gastando recursos, etc...
Também estou satisfeito com a possibilidade de acordo com o DNOS, que
V. Exa. falou, eu estava muito preocupado, eu tinha lido uma entrevista, que eu
tenho aqui comigo, do Procurador-Geral do Município dizendo que talvez numa
questão judicial o Município ganhasse. Talvez até ganhasse. Enquanto que nós
estamos tratando com o DNOS, o Senhor está tratando, acho que esta situação é
facilmente solucionável. Eu gostaria, também, de fazer três perguntas:
primeiro, eu pergunto se o Projeto de Lei, o primeiro, ele vai tratar de
mudança de regime urbanístico, ele vai tratar já de transferência de
propriedade?
O SR. ALCEU COLLARES: Não. O estudo de
viabilidade, que deverá ser ou não aprovado, e o regime urbanístico.
O SR. ARTUR ZANELLA: Há um projeto com o regime
urbanístico?
O SR. ALCEU COLLARES: É o que eu acabo de deixar,
hoje, aqui.
O SR. ARTUR ZANELLA: Obrigado. Segunda pergunta:
a transferência das áreas para os proprietários futuros do shopping center, do
hotel, etc., será, evidentemente, por licitação. Mas na licitação será feito um
pré-projeto do que ele deve construir naquele local, isto é, vai fazer uma
licitação para um hotel de cinco estrelas, com tantos quartos, andares, enfim,
um prédio de apartamentos, já definindo áreas, ou coisa assim? Ou será feita
uma licitação de um terreno para construção, sob a orientação do Dr. Debiagi?
O SR. ALCEU COLLARES: Não, será definido o
projeto básico, que dependerá da aprovação da Câmara; esta poderá querer um
hotel mais alto ou não, com maior ou menor número de apartamentos, e até poderá
dizer que não, que quer outra coisa.
O SR. ARTUR ZANELLA: Se a Câmara alterar, estará
indo contra o contrato assinado pela Prefeitura, que diz que o escritório vai
coordenar toda a parte urbanística.
O SR. ALCEU COLLARES: Não. Se, porventura, for
aprovado este Projeto, nós partiremos, com o companheiro, na elaboração dos
projetos básicos. E, evidentemente, se aprovado como está, há uma área que é
para um hotel. Depois vem o projeto definitivo, com todo o detalhamento
técnico, e com a área...
O SR. GOULARTE: Especificamente para cada
setor.
O SR. ALCEU COLLARES: Exato. Então, para um hotel
de categoria internacional, vem com uma altura de quinze pavimentos, com
duzentos ou trezentos quartos, e também a área, com avaliação prévia, a ser
permutada. Isto tudo vem para a Câmara.
O SR. ARTUR ZANELLA: Permutada ou vendida? Isso
eu não estou conseguindo entender.
O SR. ALCEU COLLARES: Estamos prevendo uma
permuta, exatamente como fazemos com terrenos. Como fazemos a permuta de um
terreno com outro?
O SR. ARTUR ZANELLA: Pega-se o terreno de um
proprietário e troca-se com o Município. Por exemplo, não diz o que o Plaza São
Rafael vai permutar com o Município, com esta área?
O SR. JORGE DEBIAGI: A idéia está baseada,
justamente, na permuta de que, dado o direito de construir à determinada
empresa, ou empresas, estas serão responsáveis pela execução da infra-estrutura,
mediante um projeto básico aprovado por esta Câmara e a fiscalização do Poder
Público. Se fizéssemos uma operação na qual a Prefeitura vendesse uma área, ela
receberia um recurso e, com este recurso, teria que fazer uma nova licitação
para fazer as obras públicas. Isto inviabiliza a idéia, porque o custo na
operação da licitação sempre é maior do que o custo do investimento direto.
Neste caso, quem receber o direito de construir, vai construir, em troca, as
obras públicas, mediante o projeto básico. Há uma situação bastante diferente
do que normalmente ocorre: quem for fazer o hotel ou o shopping, vai desejar
que a estrutura seja a melhor possível, porque estará dando ao construtor o
melhor resultado. É o contrário do que normalmente ocorre. O Município abre uma
avenida com os recursos do Poder Público, que somos nós que estamos pagando,
esta área é valorizada e o empreendedor compra uma área se valorizando daquilo
que nós, como Poder Público, alocamos. Este caso é um caso inverso e é até
singular. Neste caso, a contribuição de melhoria é direta.
O SR. ARTUR ZANELLA: Esta questão, para mim, é
extremamente difícil, porque existe acoplado aí um fundo que destinaria 25% dos
recursos auferidos para saneamento de vilas, etc. No momento em que há esta permuta
e não há o dinheiro, fica meio difícil saber como funcionará esse fundo, se o
custo vai todo na infra-estrutura própria. Imaginei que fosse vendido o terreno
e sob supervisão do escritório do Dr. Debiagi, que acho adequado. Há o
seguinte: há uma concorrência para construir um prédio de 10 andares com
determinadas características, senão desvirtua o Projeto, e o dinheiro daí
decorrente, 25%, ficaria para esse saneamento.
O SR. DEBIAGI: Há dois caminhos: uma
permuta permite que uma parte seja dada em dinheiro, está no Projeto. Se eu
adquirir direito de permutar uma área que será avaliada e submetida à Câmara de
Vereadores, em 100 mil cruzados, terei de construir uma estrutura de 100 mil
cruzados: 25% é destinado ao fundo. Esse fundo tem dois caminhos. Através da
gerência que está sendo criada neste Projeto de Lei poderá fazer com que esses
benefícios sejam alocados.
O SR. ARTUR ZANELLA: Li no jornal “O Balcão” um
informe oficial da Prefeitura Municipal, que diz: (Lê.) “As primeiras obras
serão no sistema viário, passarela e Câmara, já existindo recursos”. Pergunto:
que recursos são esses e quando seriam iniciadas as obras da pista de eventos,
após a eventual aprovação do Projeto? Pergunto isso porque isto é informe
oficial, deve ter algum recurso em algum lugar; em segundo lugar, ao invés do
que disse o Sr. Prefeito e depois corrigiu, na verdade, os carnavalescos, ou ao
menos os que administrativamente mais atuam em escola de samba, são o Ver.
Jaques Machado, que é presidente de uma escola de samba, o Dr. Artur Zanella,
que tem um certo financiamento para uma escola de samba, e todas as pessoas
afirmam que existe uma promessa, uma afirmação, sei lá, um compromisso da
Prefeitura que, aprovado este Projeto, a pista de eventos daria ainda para
utilização do Carnaval de 1988. Estão cobrando de mim, não sei se de outros
Vereadores, eu acho que o Hermes está me ouvindo também, estão cobrando de mim
porque que ainda eu não aprovei este Projeto, que eu estou atrasando a pista de
eventos, isto é, estou atrasando a construção de uma pista que servirá para o
Carnaval de 1988. Gostaria de saber de V. Exa. esta informação, se tem recursos
e o que fazer.
O SR. ALCEU COLLARES: Quando eu disse que o
trabalho é gratuitamente, eu falei do agente do carnaval, o que faz o carnaval.
O SR. ARTUR ZANELLA: Ele paga para desfilar.
O SR. ALCEU COLLARES: Não é problema de V. Exa. e
nem do Jacão. São carnavalescos, são pessoas que ajudam o carnaval e é
bem-vinda a presença das pessoas que ajudam. Eu falei do que saí fantasiado.
Com relação ao problema das lagoas, não veio para a Câmara porque nós
estamos diante de um projeto, não tem contrato nenhum assinado. Nós desafetamos
no Governo de V. Exa., o Governo Jair Soares atendeu, foi sensível à
necessidade de alteração do antigo projeto que previa a construção de estações
de tratamento. Não é estação de tratamento, são apenas lagoas de estabilização
numa área desafetada pelo ex-Governador Jair Soares...
O SR. ARTUR ZANELLA: V. Exa. me perdoa,
Prefeito? Afetada. Ela foi afetada.
O SR. ALCEU COLARES: Não, ela era uma área de
uso de bem comum do povo e, pelo que eu sei, o companheiro Caio me socorre no
campo do Direito, se é uma área de bem comum do povo e passou para uma área
particular, ela foi desafetada.
O SR. ARTUR ZANELLA: V. Exa. me perdoe,
Prefeito, eu tenho o Decreto aqui, e o art. 1º diz o seguinte: “Considera-se
afetada o tratamento de esgoto sanitário...” Ela foi, vamos dizer assim,
reservada, e quando ela é desafetada é quando tira esta reserva, então ela foi
afetada.
O SR. ALCEU COLLARES: Então, nós não vamos
discutir. É um problema claro. Isso é um problema de princípio de Direito
Constitucional, Direito Público. Era um parque com uma reserva ecológica, e se
é uma reserva ecológica, é um bem de uso comum do povo; conseqüentemente, para
o uso de um Departamento passa a ser bem patrimonial, e para isso se chama
desafetação.
O SR. ARTUR ZANELLA: Estou dizendo que recebi de
V. Exa. ofício de V. Exa.
O SR. ALCEU COLLARES: V. Exa. se equivoca, porque
era um bem de uso comum do povo, integrando o Parque do Delta Jacuí.
O SR. ARTUR ZANELLA: Vou ler para o Senhor a sua
informação: “Finalmente, através do decreto tal, tal, tal, a referida área foi
considerada pelo Poder Executivo Estadual como uso preconizado”. Assina o
Arquiteto João Alberto, porque ela é uma área de reserva, que não podia ser
usada para nada. Como ela foi destinada para as estações, foi afetada.
O SR. ALCEU COLLARES: Estou sendo afetado por V.
Exa. É um projeto que vai ser detalhado tecnicamente, e depois submetido ao
RIMA, aquele relatório de impacto de meio-ambiente. Quando se chegar à
conclusão de que efetivamente ali podem ser instaladas lagoas de estabilização
primária e secundária, e de que os processos podem resultar benéficos para o
tratamento do esgoto, só aí é que nós vamos partir para o contrato de
construção das lagoas.
O SR. ARTUR ZANELLA: Mas vem para a Câmara?
O SR. ALCEU COLLARES: Evidente.
O SR. ARTUR ZANELLA: E a nossa passarela, Sr.
Prefeito?
O SR. ALCEU COLLARES: A passarela, aqui, não
corresponde ao que dissemos. Nós vamos tentar gerar recursos e a Câmara deverá,
evidentemente, se manifestar sobre isto para iniciar e para isso nós teremos
que alterar aqui ou pedir aos Senhores que tirem do Regime Urbanístico que
estamos pedindo - é uma hipótese, nós não estamos definidos. A outra hipótese
seria retirar daqui o espaço para a passarela e autorizar a sua construção. O
sistema viário já constava do Plano Diretor e foi alterado. Então nós podemos,
num determinado momento - acho que podemos fazer isto -, encaminhar uma
mensagem ao Presidente da Câmara, pedindo que destaque daqui esses dois espaços
e aí evidentemente nós nos reservamos para nessa oportunidade dizer a origem
dos recursos, não são do Município e ninguém vai dar nada para nós. Nós vamos gerar
esses recursos, não sei se toda a passarela estará pronta, mas que parte dela -
se a Câmara me der esta oportunidade e se V. Exa. me ajudar para os nossos
negrões fazer uma “ginga” numa passarela - pelo menos a parte de cimento, ainda
que tenhamos que botar as arquibancadas antigas e durante o ano nós vamos
fazer. Depois, vocês, que são agentes carnavalescos, devem discutir com quem
vai elaborar o projeto para ver se estas projeções que estão aqui são as
melhores.
O SR. ARTUR ZANELLA: Tem gente que diz que ao
invés de empurrador de carro vamos ser segurador de carro, mas eu tenho a
impressão que isto não vai acontecer.
O SR. PREFEITO: Não tem problema. Eu acho
que vocês vão se dar bem, principalmente num ano eleitoral, que é 1988.
O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, está inscrito o
Ver. Kenny Braga. V. Exa. terá dez minutos, como manda o Regimento Interno.
O SR. KENNY BRAGA: Sr. Prefeito, o debate que
se trava hoje aqui nesta Casa, ele é realmente memorável e é altamente
proveitoso para a vida da Cidade.
Revelaram-se aqui, lucidamente, através de manifestações diversas, duas
visões e duas abordagens, dois enfoques desta realidade social, múltipla e
fervilhante que nós conhecemos como cidade ou centro urbano. Uma visão
imobilista, passadista, estagnada, e uma visão progressista, dialética, mutante
e ousada de quem pretende andar para a frente e sabe que o futuro não espera os
tímidos, os limitados e os medíocres. Nós, do PDT, queremos realizar o Projeto
Praia do Guaíba porque não pretendemos congelar a vida urbana da cidade de
Porto Alegre. Nós somos diferentes de algumas pessoas. Há pessoas, as pessoas
que ouvi hoje aqui, que vivem em Porto Alegre sonhando a taba, com a tribo, com
um mundo primitivo que, por mais belo que seja, não cabe dentro da realidade de
Porto Alegre. Então, por isso são visceralmente contra todas as realizações que
têm a fisionomia do progresso e da modernidade. São imobilistas, passadistas,
apologistas da estagnação, da inação, do conservadorismo ilimitado e do que é
velho por ser velho, sem qualquer virtude que geralmente têm as coisas antigas.
Então, pessoalmente, Sr. Prefeito...
(Aparte anti-regimental.)
Eu fui elogiado também aqui durante a tarde e não chiei, inclusive se
disse aqui hoje, eu ouvi esta afirmação e fiquei calado na hora porque sou
bem-educado, que a Bancada do PDT era submissa ao Sr. Prefeito, e eu poderia
ter respondido até de uma maneira pouco elegante, porém eu quero conservar a
minha elegância e o meu cavalheirismo.
Então, Sr. Prefeito, eu sou a favor do Projeto pelas seguintes razões
que vou alinhar agora: porque eu sei valorizar os atos administrativos ousados
e talentosos, independentemente da identidade dos seus autores, porque se eu
quisesse ver uma cidade imutável eu não estaria morando em qualquer grande centro
urbano do Brasil, eu estaria morando na Groenlândia ou então na Serra do Navio,
porque o Projeto não retira um milímetro sequer - eu vou sublinhar isso porque
é da maior importância e isso tem se prestado a muitas intrigas que se faz na
Cidade e a muitas confusões propositadas -, o Projeto não retira um milímetro
sequer do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho e do Parque Marinha, porque o
Projeto contempla o povo humilde desta Cidade, através de várias formas, como
este fundo de saneamento básico e essa estrutura de lazer e prática esportiva,
principalmente nesses trinta campos de futebol. Isso é importante, pois Porto
Alegre, em decorrência do crescimento e da especulação imobiliária, dos campos
de futebol de subúrbio... Oportunamente, os autores do Projeto lembraram-se de
que esse é o esporte das multidões. Somente as pessoas que são contra futebol,
por serem elitistas, por serem patas-duras, como se diz no interior, são contra
este Projeto. Sou a favor deste Projeto, porque em contatos e conversas que mantive
com muitas pessoas desta Cidade, converso muito, porque ando muito a pé e de
ônibus, talvez seja o Vereador que mais conversa desta Casa, a maioria das
pessoas é a favor do Projeto. Se eu fosse de outro Partido e estivesse aqui,
como Vereador, teria a grandeza moral de reconhecer a capacidade dos outros.
Não teria inveja, ressentimentos, e com a consciência de que não possuo o
monopólio da verdade. Existem pessoas no mundo que detêm o monopólio da
verdade, se consideram os defensores eternos da Ecologia e só elas são
proprietários da causa ecológica. Se este Projeto não for realizado, Ver.
Marcinho Medeiros, que certamente está querendo ir para uma tribo, e ninguém o
impede que faça isso, essa área continua abandonada como está hoje, sem
aproveitamento, esperando invasões desordenadas, anárquicas, que ninguém pode
impedir, até porque essas invasões decorrem de uma situação de miserabilidade
absoluta que o Governo do PMDB da Nova República não resolve. O Projeto em si é
ousado, é criativo, é bom e, certamente, não será inviabilizado, Ver. Caio
Lustosa, pela oposição sistemática, e não será inviabilizado por agressões
sistemáticas e por agressões verbais que tenham conteúdo furioso, que se
resumem apenas em investidas verbais que nada têm a ver com a realidade. E se
estou exaltado agora é porque ouvi muitas coisas calado, durante a tarde. E
estou devolvendo na mesma moeda.
O SR. PRESIDENTE: Encerrado o tempo do Ver.
Kenny Braga, a palavra passa por derradeiro ao Senhor Prefeito.
O SR. ALCEU COLLARES: Senhores Vereadores,
estamos tendo a oportunidade de iniciar o caminho de grande importância em
todos os sentidos, seja o caminho da discussão, da participação, da tentativa
de participação, de consulta popular, seja o caminho para alterar profundamente
a fisionomia da cidade de Porto Alegre. Estes dois caminhos são de magnífica
importância para a Cidade. E tivemos aqui, durante a tarde, manifestações,
algumas com restrições, mas o que nos encanta, o que nos fascina é que ninguém
é contra a idéia. É a primeira vez que se consegue unanimidade para a idéia,
para uma idéia tão vigorosa, tão extremamente forte, tão imbatível, tão
irreversível - a idéia, não os projetos futuros que virão a alterá-la - a idéia
da ocupação de uma área tão importante para Porto Alegre, que deve ser
civilizadamente utilizada.
Então, saímos daqui, eu e Debiagi, gratificados pelo debate, porque
todos eles se direcionaram na preocupação de buscar o aperfeiçoamento deste
estudo de viabilidade urbanística, arquitetônica, paisagística e ecológica. E
vamos continuar debatendo, mesmo que a Câmara aprove, e gostaria da atenção dos
companheiros, e aprovando o Projeto, queremos continuar discutindo com todas as
camadas da sociedade porto-alegrense para gerar a consciência da necessidade
desta proposta. Vamos até o final do nosso mandato pregando em todas as
associações que nos chamarem e quando não nos chamarem nós iremos nos oferecer
para debater a necessidade de implantação deste futuro projeto de ocupação
dessa área de cento e quatro hectares. Porque, é verdade o que muitos disseram,
estamos sofrendo a angústia da atipicidade deste mandato de três anos, que
falta um ano e dois meses para terminar. Se não iniciarmos, e pretendemos
iniciar pela Passarela de Eventos Populares e pelo sistema viário, deixando-os
acabados ao término do nosso mandato, se não gerarmos essa consciência na
comunidade de Porto Alegre, sobre a importância desta proposta, pode vir um
novo Prefeito e interromper a realização deste projeto futuro. É evidente que
este não será o argumento usado para combater a idéia. Não! Tem um ano e pouco.
Não vai ter tempo. Não vamos começar! Esse me parece não é o argumento lógico e
nem decente. Vamos repetir: nem decente! Nem honesto, porque, se estamos nos
propondo a tentativa de fazer duas obras e talvez tenhamos probabilidade de
fazer, teremos que continuar discutindo, acompanhados, sempre, da Câmara
Municipal de Vereadores, em todas as associações, principalmente dessas que
assinaram o documento. Queremos comparecer onde quisermos, no debate público,
na praça pública, no rádio, na televisão, na associação, lá na Prefeitura, onde
quisermos. Até porque daqui a um momento poderia ter tais equívocos a proposta
que não seja aquela que estamos imaginando que é, embora convicção profunda...
Nós temos que, diante de uma proposta inovadora, que vai mudar a fisionomia da
cidade de Porto Alegre, mais do que isto, Porto Alegre tem que se preparar, não
pode ficar estagnada, ficar indiferente, não pode ter os olhos na nuca, tem que
olhar para a frente. Treze ou quatorze anos nos levam agora ao início do
terceiro milênio e Porto Alegre vai desempenhar um papel importantíssimo, quer
queiram ou não queiram algumas pessoas, mais cedo ou mais tarde se implantando
para benefício comum da nossa economia um mercado comum: Argentina, Uruguai e
Brasil, e Porto Alegre vai ser a porta de entrada e ela vai deixar de ser uma
cidade que fica na rota do turismo nacional e internacional para gerar o
turismo interno. E para isto tem que ter uma infra-estrutura, para isto precisa
ser acabada. Nós estamos preocupados, não apenas com o projeto, com esta idéia,
com este estudo de viabilidade. Pedimos ao nosso Secretário Baggio que estude o
problema do porto, porque podemos nos dar o luxo de ter aquela vasta área.
Esconderam de nós uma vasta rua que é bem de uso comum do povo. Como é que
vamos ter aquela quantidade de armazéns ociosos? Nós podemos discutir aquilo,
como outros países já fizeram, para um aproveitamento, seja do folclore,
artesanato, mercado de hortifrutigranjeiros. Nós não podemos nos dar o luxo de
ter uma Cidade com a conformação geográfica como a nossa, com a forma de um
leque, toda concentrada para o centro, com aquela vasta área escondida ali.
Mais do que isto, vamos ter um estudo também de ocupação, civilizada e útil para
a Cidade, da área onde estava instalada a antiga Viação Férrea. Aos poucos,
precisamos ir construindo a nossa Cidade. Só uma referência, aquilo que os
Senhores, companheiros, votaram e o fizeram outros Vereadores de outros
Partidos, favoravelmente, as alterações que foram introduzidas no Plano
Diretor, não têm nenhum absurdo, foram medidas necessárias para a retomada do
desenvolvimento urbano, mas, mais do que isto, para a retomada do
desenvolvimento econômico da Cidade, porque os que preconizaram o Plano Diretor
97, bem intencionados, muito bem intencionados, se preocuparam exclusivamente
com o desenvolvimento urbano, mas nos deixaram numa situação extremamente
difícil com relação ao crescimento econômico, não estou falando em
desenvolvimento, porque há uma diferença muito grande entre um e outro. Nós
estamos, a cada dia que passa, a cada ano que passa, Ver. Artur Zanella e Ver.
Aranha Filho, recebendo menos contribuição tributária, exatamente porque este
Plano Diretor, com as suas exigências, com os seus coeficientes, os menos em
termos de altura, de aproveitamento e ocupação, os menos que têm no Brasil,
eles impediram, não só impediram, eles são os responsáveis pela evasão de uma
quantidade muito grande de empresários, de industriais que nos deixaram para
irem para Canoas, para Esteio, para Sapucaia. Então, não tenham preocupação os
que votaram a favor. Votamos a favor da Cidade, votamos a favor da retomada do
desenvolvimento urbano e do adensamento onde for possível, onde haja uma
infra-estrutura ociosa, água, luz, esgoto, iluminação, a praça, aí nós vamos
permitir pôr um instrumento extraordinário que nós criamos, o Executivo e a
Câmara, que é a criação do solo criado. Nós vamos vender índices para daí
também tirar dinheiro e botar nas obras públicas e no saneamento básico. Muito
obrigado por tudo que vocês têm feito por Porto Alegre. E eu espero a venda
daqueles terrenos para fazer umas creches, e tenho certeza que vou ter. Muito
obrigado.
O SR. BROCHADO DA ROCHA: Antes de apresentar as
nossas despedidas, sou obrigado, por um problema regimental, a ler Requerimento
do Ver. Hermes Dutra.
“Senhor Presidente:
A votação do Projeto, feita no momento em que muitos Vereadores estavam
viajando e o fato de ter faltado somente um voto para sua aprovação, justifica,
sobremaneira, a necessidade de uma nova votação.
Ressalte-se, ainda, que o autor foi procurado por vários Vereadores que
manifestaram sua vontade de que fosse renovada a votação do referido Projeto.
Em vista disso e, de acordo com o art. 120 do Regimento Interno e seus
parágrafos, solicito a Vossa Excelência que seja feita Renovação de Votação do
PLCL 05/87, processo nº 1118.”
Dou por lido, para depois ser submetido ao Plenário, conforme determina
o Regimento Interno.
Por último, gostaria de dizer ao Sr. Prefeito Municipal que a Câmara
recebe V. Exa., assim como o Dr. Jorge Debiagi, hoje, e também todas as
informações necessárias, como um desafio à competência desta Casa e, sobretudo,
ao seu discernimento no sentido de colocarmos o Processo em votação. Todos nós
estamos cientes de que V. Exa. traz um programa de grande magnitude, que
engrandecerá os nossos trabalhos, sejam aqueles favoráveis ou contrários, isso
não interessa. Interessa que, em Porto Alegre, se desenvolve uma idéia, que é
fundamental, de vez que V. Exa. e os oradores que aqui lhe estiveram
interpelando estavam, há muito tempo, carentes de um projeto de uma densidade,
cujo não é irrelevante, face à grandeza que o mesmo tem. Queiram, por isso, Sr.
Prefeito e Arq. Jorge Debiagi, receber o nosso agradecimento, em nome da Câmara
de Vereadores, e, sobretudo, por dever, devo registrar que o Sr. Prefeito de
Porto Alegre solicitou ao Presidente da Câmara Municipal, conforme lhe faculta
o Regimento Interno, vir aqui e poder manter este diálogo. Nós agradecemos o
seu comparecimento e passaremos, daqui para a frente, a debater, sem posições
preconceituosas, mas sabedores de que a Casa se engrandeceu com o dia de hoje.
Nada mais havendo a tratar. Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h48min.)
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